A BIBLIA QUE EU CONHEÇO NÃO É PASTA DE DENTE
Por Carlos Sena


 
A Bíblia parece mesmo que virou pasta de dente. Tudo tem explicação nela, ou pelo menos é assim que alguns fanáticos querem transformar tão importante publicação de fé cristã. Independente de fé e de ser cristão, não entra na cabeça de ninguém que a Bíblia, escrita a tantos séculos se preste a ser norteadora de comportamentos... Principalmente se esses comportamentos são de ordem natural e cultural. Fé é dogma e se assim não fosse o mundo já teria se entregue ao capeta ou ao lúcifer ou ao capiroto ou ao cadeirudo, seja lá que nome tenha. Nele eu também não creio – pelo menos na formatação dele tão personificada.
O mundo capitalista criou um novo Deus: um deus frágil que se incomoda com o que o povo faz na sua intimidade; que se incomoda com que o povo que é pecador por excelência, peque. Afinal, (está na bíblia) que devemos perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete. Neste caso, seria muito mais fácil para os fanáticos utilizarem a bíblia no viés do perdão do que no do castigo. Por conta disso e de outras sandices mais, Deus ficou sendo visto como o que castiga, não como o que liberta. A própria igreja católica, ainda hoje, prega o sacrifício na terra para que no céu se ganhe a vida eterna. Ora, a gente tem que procurar ser feliz na terra e, se der, ser feliz no céu. Porque se a gente for feliz na terra fazendo o bem sem olhar a quem; dando com a mão direita sem que a esquerda veja; perdoando setenta vezes sete; não se preocupando com o dia de amanhã; sendo, acima de tudo, exemplo de vida mais do que retórica de confessionário ou de púlpito, certamente teremos o céu por prêmio... Nem que seja o “céu da boca”...
O que não dá pra engolir é ver e ouvir um bando de gente que não foi capaz de ser profissional liberal de sucesso e buscou na religião um meio de vida. Mesmo que explorando os mais fracos, aqueles para quem a vida foi madrasta. É mais ou menos isso que tem levado o mundo dos fracos a se abrigar debaixo de um bíblia que não existe, mas que nas suas entrelinhas se permite ao subjetivismo dos donos do “mercado da fé”... A bíblia hoje virou pasta de dente, só que ainda não combateu o mau hálito daqueles que bafejam ódio em nome dela, discriminam em nome dela e sobre ela depositam suas polpudas contas bancárias. A bíblia que eu conheço e demonstrei que conheço não é essa dos padres pedófilos, nem dos pastores Silas Málacraia e Edir Morcego, tampouco da Legião da Boa Vantagem. A bíblia que eu conheço é a do perdão, a do amor incondicional. A bíblia que julga e condena eu nunca tive acesso a ela e nem quero, porque a vida já é curta demais pra gente gastar “vela boa com defunto ruim”...  O Silas Málacraia em seu programa de TV fala mais nos Gays do que em Deus, por que será? A psicologia prova que “quem disso usa, no geral disso cuida”... E ninguém desconhece que nas igrejas católicas ou apostróficas tem nos seus porões todo tipo de sacanagem e libidinagem. Tarefa cruel para o atual Papa administrar e ver o que pode fazer, pois São Francisco, em quem se inspirou para tirar seu nome, foi, a meu ver, o mais fiel cristão de todos os tempos. Ele sim, era a Bíblia personificada de libertação, amor e respeito aos semelhantes.
Sem delongas, quem quiser que utilize essa nova pasta de dente chamada BIBLIA. A que eu conheço e com a qual norteio minha vida é outra – igual àquela que nos lembra não usar o nome de Deus em vão...