LAMENTO DE CÃO

Este acontecimento ocorreu há 36 anos. Éramos recém-casados e fomos morar em um conjunto residencial no Morumbi, aliás, quando solteiro já morava lá e por sorte comprei um imóvel na mesma rua, a uns cem metros de onde morava.

Na residência em frente, o morador com medo que seu carro fosse roubado, amarrava um cachorro de porte médio para a vigília. O cão ficava ao relento, não havia abrigp, nem sequer um papelão que amenizasse do frio do concreto, único abrigo seria embaixo do veículo, mas a corrente era curta e o cão ficava vítima das intempéries.

Estávamos no inverno, aconchegados embaixo de cobertores e a noite prometia até geada, quando na casa em frente o cão começa a uivar. Segundo se sabe, os cães uivam quando não estão bem. O uivo é um lamento e é triste de ouvir. É como se o cão quisesse falar. O cão continuava uivando e outro cão respondia de muito longe com outro uivo tão triste quanto. Parecia que eles estavam “conversando” e se entendendo. Se fosse isso, certamente estariam “falando” da noite fria e do frio por que estavam passando. O estranho que só os dois uivavam naquela noite silenciosa. Mas a verdade é que aquela “conversa” já estava aborrecendo demais, pois comecei a sentir dó do animal e por outro lado, haja “tolerância”!!! Será que o dono do cão não se tocava que aquele barulho estava enchendo o saco?

Resolvi tomar uma atitude. Abri a janela e também comecei a uivar. A matilha (5 dálmatas e um pastor alemão) do meu vizinho contíguo percebeu que um estranho entrou na conversa e partiram para o muro que limitava nossas casas e soltaram a bronca, então lati para eles, ato contínuo, toda a cachorrada do pedaço se pôs a latir e o silêncio da noite foi quebrado. Se houvesse 300 residências, pelo menos 300 cães latiram furiosamente.

A porta da sala do vizinho em frente se abriu e ele colocou o cachorro para dentro e não uivou mais. No dia seguinte nos cumprimentamos normalmente como se nada tivesse acontecido. Creio que aquele cão ficou muito agradecido comigo até o fim dos seus dias. Paguei na mesma moeda.

Amigos Recantistas, postei esta crônica com um pouco de humor para não impactar as pessoas mais sensíveis, mas o que faço é um apelo a quem tem um cão, um gato ou outro animal doméstico que vive em apartamento ou preso sem conforto algum como o caso foco desta crônica. Cão em apartamento, por mais bem tratado que seja, é um prisioneiro e enche o saco dos vizinhos quando estão sós. Cachorro que tenha quintal e fica atrelado a uma corrente cumpre uma condicional inversa, pois à noite que trabalha de vigilante. Lembrem-se de que eles estão lhe prestando um serviço. Todos os cães que tive morreram atropelados porque eram livres. Tive um (setter irlandês mestiçado) que vendo passar uma cachorra do outro lado da rua, pulou o muro tão afoito para um namoro que foi atropelado. Não conseguiu seu intento e não deixou descendente.

SANTO BRONZATO em 10/4/2.013.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 10/04/2013
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