A SAGA DE HORÁCIO, O ESPERMATOZOIDE ALTRUISTA.

Horácio foi um espermatozóide de valores morais e sociais, era portador de necessidades especiais, sua cauda era curta e todas as vezes que havia ejaculação ele não conseguia acompanhar a galera, era literalmente atropelado. Tomou uma decisão, iria se dedicar o máximo possível para conseguir fecundar um óvulo. Começou a fazer exercícios físicos, corria o tempo todo de um lado para outro no testículo, dali fazia o percurso até a próstata e voltava, fazendo do canal deferente uma verdadeira pista. Quando estava exausto, parava para descanso e ficava a imaginar e a decorar o caminho que teria de fazer. “ Sair no pelotão da frente, seguir pela uretra, subir pela vagina, atravessar o útero, alcançar as trompas, encontrar um ovulo e entrar de cabeça” dizia ele repetidas vezes enquanto mentalmente fazia o percurso. Em seguida corria o trecho novamente até a exaustão para depois refazer o exercício mental, “Sair no pelotão da frente, seguir pela uretra, subir pela vagina, atravessar o útero, alcançar as trompas, encontrar um ovulo e entrar de cabeça”. A cada sinal de ejaculação dois milhões de espermatozóides se acotovelavam tentando sair já na dianteira, mas Horácio não, ao contrário dos outros ia para os fundos, jurou que só participaria quando tivesse certeza da vitoria, cujo premio era receber um corpo. Apesar de viverem aos milhões , os espermatozóides são extremamente solitários ,pois a disputa é grande, as chances de chegar primeiro é uma em milhões e em um testículo ninguém tem amigos. O Horácio era diferente, tantas vezes viu ejaculações que começou a filosofar sobre os resultados e chegou à conclusão que todos deveriam ser amigos, conversar um pouco, falar de seus sonhos caso conseguissem vencer, sobre que corpo queriam , se de homem ou de mulher, falar sobre seus projetos, pois uma coisa era certa o sonho seria realidade apenas para um, os demais morreriam na empreitada. Horácio virou conselheiro, orientador e treinador, se importava com os demais, tinha noção do futuro, achava que se não poderiam morrer como espermatozóide se transformando em pessoa, deveriam curtir o tempo que dispunham para um bom relacionamento.” Nossa vida é curta, as chances são mínimas, devemos amar uns aos outros” dizia Horácio. Pouco sucesso teve, egoísmo de espermatozóide é coisa séria e tão forte que muitos o carregam em vida terrena, por isso que vemos tantas pessoas vivendo como se tivessem um rei na barriga e não enxergam sua insignificância. Ninguém entendia o Horácio, porque treinava tanto, porque era tão legal, mas a cada dia seu desempenho melhorava mais. Horácio um dia se considerou preparado, sua cauda apesar de curta era potente, seu preparo era evidente, sua experiência era maior. Seu amor pelos companheiros também era grande mas chegara o momento da disputa e agora era cada um para si. De repente os testículos começam a pular e bater um contra o outro, dando uns pulinhos cadenciados que assustou a todos, pensavam que poderia ser um terremoto, mas Horácio conhecia o significado daquela cadencia, era o grande momento ia acontecer uma ejaculação. Horacio se posicionou na frente, a adrenalina subiu, e ele repetia sem parar ,” sair no pelotão da frente, seguir pela uretra, subir pela vagina, atravessar o útero, alcançar as trompas, encontrar o ovulo e entrar de cabeça”. Adrenalina a mil e pum, foi dada a largada. Horacio saiu disparado, com larga vantagem, atravessou a uretra, agora deveria subir por uma vagina quente e úmida, mas o inesperado aconteceu, um clarão ao invés da vagina. Um momento de surpresa e a compreensão. No ultimo gesto de altruísmo Horacio gritou tentando salvar alguns. “voltem que é masturbação” disse ele. Nada mais havia que fazer, um vácuo e depois o encontro com uma louça branca e fria onde todos chegaram em seguida. Os espermatozóides, milhões deles se debatiam tentavam chegar, mas não sabiam aonde. Horácio olhava a expressão de cada um e via o desespero de sonhos que morriam ali, viam naquele momento que perderam as chances de terem sido mais amigáveis, de uma convivência mais humilde. Aos poucos todos foram morrendo, Horácio era mais preparado e resistia, olhava ao seu redor aquela cena de genocídio, milhares e milhares de colegas amontoados um por cima do outro, corpos por todo o lado, cabeças onde floresceram sonhos e agora tudo acabado. Sem ter mais com quer conversar Horácio disse para si mesmo. “que tragédia faz uma punheta” e deu seu ultimo suspiro.

danilos
Enviado por danilos em 08/04/2013
Código do texto: T4230811
Classificação de conteúdo: seguro