Um show de acasalamento
Muita coisa passa despercebida dos nossos, nem sempre argutos sentidos. É assim em qualquer lugar que estejamos. Ás vezes apenas vemos, mas não enxergamos ou sentimos as situações que estão a um palmo do nosso nariz.
Basta parar um pouquinho e acionar o que ainda resta dos nossos sentidos ancestrais para se ter a oportunidade de perceber situações inusitadas, camufladas pela correria intensa do dia-a-dia.
Pois bem, a Beira Rio de Imperatriz é o local escolhido por oito em cada dez imperatrizenses para caminhadas , exercícios físicos, ou mesmo para se encontrar com os amigos.
Dia desses, numa manhã quase chuvosa uns poucos privilegiados tiveram o prazer de se deparar com uma cena raríssima: o acasalamento de duas Curicas (Theristicus caudatus) que já se imaginava extintas.
O silêncio daquela manhã foi quebrado pelo movimento das aves numa “gritaria sem tamanho” . Parecia que as duas criaturinhas de Deus queriam mesmo chamar a atenção. Era um escândalo, só.
De longe um bem-ti-vi observando a cena do alto de uma sumaúma todo encolhido resolveu chegar perto dos dois e alerta-los : “ cuidado...Tem gente olhando! ” Não adiantou nadinha, o namoro despudorado continuou.
Os Pirarucus da lagoa dormiam e não viram nada, mas um solitário tracajá que se deliciava com o espetáculo zangou-se com o fofoqueiro passarinho : “sai fora, bacana ” parece ter dito o bicho voltando-se para seu momento de voyeurismo.
"O escândalo" continuou com as curicacas comportando-se como se fosse donas do mundo.
Quando os dois voadores perceberam, estavam lá, observando a cena além dos outros bichos: os humanos que, interromperam a caminhada para ficar olhando o espetáculo do acasalamento”
Uma pombinha, “fogo pagou” que parecia doida pra entrar na “festa”, e um grupo de pardais que promovia a maior algazarra, também interromperam o que faziam para ficar olhando “a farra matinal das curicacas”.
Percebendo que tinha chamado muita atenção, o casal, envergonhado, voou bem alto e fugiu em direção ao Estado do Tocantins, na outra margem do Rio Tocantins.
Do lado de cá, na copa de um pé de ipê, um solitário iguana , que via tudo desde o início, meio tristonho lamentou: “eitaa, mas tava tão bom”.