Luz e calor

Caio Lucas

A luz tem um calor diferente, entra na pele como se abrisse a alma e aquece todos os membros, sensuais ou não.

Enquanto meus olhos procuram os acontecimentos de amanhã, minha lembrança volta e vê o ontem, mas não sinto as dores, não sinto nada além de algumas imagens sem serenidade, palavras que me ofenderam e o tempo vai e volta na minha mente.

Deveria existir um remédio para passar o passado, abreviar o hoje, fazer os gozos serem mais intensos, todos eles, até os que não sonharam, até os que despiram com o corpo e se perderam, não noutro corpo, mas em um deserto que fazia sumir as forças numa angústia desconhecida.

Tenho algo que me deslumbre, preciso aprender a não julgar outrem, desejar todo corpo, comer todo prato, como se fosse ídolo, uma tola imagem de um homem diferente.

A paixão e o poder da conquista é uma incógnita, sei desejar com os olhos, com o tempo, com o pênis, nunca com as mãos, jamais toquei outro corpo sem permissão, mas quando permitido, sim, abusei, abuso até me fartar dos êxtases que me faltam quando estou perdido nos meus devaneios loucos de escritor.

Estou longe de ser um Narciso, olho no meu espelho para fazer a barba, quase nunca vejo meu corpo, mas outros... Sei a profundidade dos olhos das mulheres, muitas me desprezam e me julgam incapaz pela idade, outras não dizem, esperam a reação ou alguma frase que lhes façam responder ou repudiar.

Morremos todos depois de uma relação sexual, tanto faz a opção, queira ou não acaba virando de lado e morre pelo menos alguns minutos, então passa pelo meu corpo a satisfação de ser tomado ou de ter tomado cada gota de vida que ejaculou da minha alma, sem pudor, sem medo, afinal o espetáculo do gozo é se sentir dentro do outro, dono, caminhando cada pedaço da sua carne quente que roça meu pênis que noutro agora satisfeito retrai-se delicadamente.

É contraditório morrer de luz acessa, precisamos devagar desligar a beleza da vida, encolher cada pedaço de pele, deixar os sabores que invadiram seu paladar, esquecer as mulheres que passaram por sua vida. Mas uma coisa é importante, você só se lembra de uma, a que te deu o corpo, a boca gulosa, também aquela que andei a pélvis com a língua louca de tesão pronta a sentir o gosto que escorre da vagina perfumada de tentação.

Talvez não tenha notado, não falei de amor, sou capaz, mas hoje meu calor, minhas luzes são ilusórias, quero sexo, fundir corpos quentes aos desejos mais loucos que carrego, inventar interesses por eles mesmos, comer cada pedaço da mulher que desejo, ouvir falar do meu corpo ou só sentir ser acarinhado sem preocupações fantasiosas.

Na maioria das noites sonho com caminhos perdidos, escadas, ruas que nunca encontro saídas, só não vejo luzes e nem sinto o calor, preciso aprender a administrar meus sonhos, chamar meu amor pra caminhar junto, ir não sei onde, pelo menos enquanto durmo sozinho neste vazio de calor que me esfria as energias e não me permite sonhar com tesão de vida, abrir as vestes, ve-la caminhar nua pelo quarto.

Mas nada disso é possível por agora, talvez seja só um sonho quente e iluminado com minha lua, meu calor e a paixão louca e ansiosa de viver.

Bom dia