VIRADA DO AVESSO!
A fé é um oásis no coração onde aonde jamais chegará a caravana do pensamento (kahlil Gibran)
Escrevo na primeira pessoa, não com o propósito de dar elevada importância aos episódios da minha história pessoal. È muito fácil escrever sobre o que sinto e penso. Mesmo quando estou cansada e sem ânimo, descrevo e faço relatos ao pormenor, com a intenção de mostrar que esses momentos em vez de me deitarem abaixo, em vez de me desanimarem vão dando consistência ao que me parece ser fundamental: Acredito que a fé move montanhas. Mesmo a noite mais escura e longa aponta sempre uma luz capaz de iluminar as trevas.
Tenho consciência de que a minha verdade não nasce naquilo que racionalizo, controlo ou me dá segurança, mas vem sobretudo da criança que existe dentro de mim e faz-me vibrar quer seja na alegria, quer seja na dor. Levei algum tempo a deixar que essa criança me conduzisse e me iluminasse.
Tento ser uma pessoa inteira em todas as áreas da minha vida, sem me culpabilizar pelo que quer que seja, mesmo que isso implique a perda de algum conforto, de algum descanso, e de alguma despreocupação a nível material. Não há nada que mais atrapalhe o caminho para a felicidade do que o peso da culpa. O medo de sermos castigados ou o medo do que de mal nos possa acontecer, a sensação de que não merecemos viver alegres.
Na minha infância sempre fui uma criança bem-comportada, responsável expansiva, esperta. Lembro-me de poucas vezes chorar e estar triste, aparentemente vivia satisfeita, gostava de mim e não via maldade ou injustiça no mundo. Não era portanto uma criança infeliz, só que a alegria manifestada vinha apenas de fora e não vibrava no meu interior.
Aprender a viver implica aceitar tranquilamente o que não se tem, o que vamos conseguindo construir e o que também vamos perdendo pelo meu caminho.
Tenho consciência que só através duma vivência atenta e empenhada podemos crescer como seres humanos. No entanto durante muito tempo a confiança em mim mesma foi alimentada pelas opiniões e pelas expetativas dos outros. A ânsia infinita de amar e ser amada juntamente com um profundo medo de perder o que quer que fosse sempre me levou a aproximar-me das pessoas duma maneira que hoje considero não ser a mais adequada. Essa ânsia muitas vezes impediu-me de encontrar tempo para mim mesma e de fazer as coisas que realmente me davam prazer.
Mesmo rodeada de gente tantas vezes senti-me sem ninguém ao lado. Isso levou-me a aperceber dos medos, das inseguranças, das carências, das vergonhas, das insatisfações, das desilusões que as pessoas me ofereciam. Tinha noção que a minha vida e as minhas reações não deviam ser comandadas pelo exterior mas que devia ser eu a decidir como reagir. No entanto apesar disso durante algum tempo eu continuei, e continuei, e continuei a ser uma cumpridora, sempre preocupada em agradar os outros. Foi a partir do momento em assumi as minhas limitações que construi um chão real. E foi dessa forma que cresceu dentro de mim algo que não sabia bem definir mas que me unificava. E acendeu-se em mim uma paz mesmo estando em guerra com o mundo á minha volta
Acredito que qualquer pessoa tem dentro de si aquilo que precisa para transformar o negativo em positivo independente do ponto a que tenha chegado. A decisão é de cada um. Creio que a nossa atitude é a única coisa sobre a qual temos controlo total, o que supostamente significa que se eu quiser mudar o mundo ao meu redor só tenho de mudar a minha maneira de pensar.
Este meu outro lado só despertou mais tarde. Foi um despertar lento, discreto, subtil, e inesperado até para mim, mas que de certo modo me obrigou a tomar consciência de certas características que não se encaixavam naquilo que até ali tinha sido a minha maneira de pensar e de me comportar. Isso ajudou-me muito a identificar-me e a estruturar-me.Descobri formas de estar, de falar, de agir que me ajudaram a estar em paz não só comigo como com o mundo. Passei a aproveitar os efeitos positivos e a ultrapassar os negativos das coisas que me íam acontecendo. Senti-me despida mas com uma tranquilidade no destapar da minha alma, senti o seu sabor, a sua densidade. Isso deu-me outro tipo de forças, que acabei por reconhecer como as que verdadeiramente me empurravam para a frente.
Mas a minha luta interior foi grande dificil e longa. Submeter-me ou contestar? Olhar para trás ou olhar em frente? Optar pelo seguro ou pelo risco? Recalcar o que sinto ou agarrar-me ao que tenho? Será que viver consiste em substituir determinadas estruturas por outras aparentemente diferentes? Ou será que viver é caminhar sem um objetivo pessoal? O que me fazia andar não vinha de dentro de mim? Será a vida apenas uma sucessão de funções, no meio das quais eu ando perdida dos outros e perdida de mim? Será que eu realmente sei aquilo que me pode proporcionar uma vida plena? Decidi despertar de um longo sono. Decidi abrir bem os olhos e correr o risco de eventualmente ver coisas que não gostava, coisas que me metiam medo e que me poderiam afastar das pessoas deixando-me sozinha e mais entregue a mim mesma. Comecei a perceber que para estar cada vez mais inteira na minha vida, não poderia mais ser comandada pelo exterior e percebii-me também que essa minha descoberta talvez me virasse do avesso.
Até que ponto eu me comportava tal como era e não tanto de acordo com o que eu tinha aprendido que devia ser? Comecei a olhar para mim globalmente, com coragem, humildade, respeito e amor. Lentamente fui aprendendo a gostar de mim, dando-me o direito de ser simplesmente o que sou, e percebi que só assim podia estar em paz comigo mesma qualquer que fossem as circunstâncias do meu dia-a-dia. E esta foi a maior viravolta da minha vida. Indiferente aos medos, aos raciocínios, às desculpas com as quais tantas vezes procurei proteger-me, algo nascia dentro de mim e chamava-me á atenção para as minhas próprias asas e para a grande capacidade que eu tinha de poder voar. O meu interior questionava-se e ao mesmo tempo aconselhava-me:
«Preferes que fique como até aqui ou tens coragem enfrentar o mundo e atender aos desafios que se te deparam pela frente? A vida convida-te a empreenderes viagens desconhecidas, que se calhar te assustam, mas se perdes o comboio agora, ele não voltará atras. Esta é a tua change. Agarra-a com unhas e dentes.»
De facto esta vida é uma viagem que não acaba, mesmo quando aparentemente chega ao fim.Esta vida é realmente uma viagem no tempo, uma caminhada em direção ao amor, que é a força que comanda tudo o resto. Às vezes viajamos acompanhados outras vezes sós, às vezes voamos outras vezes tropeçamos, às vezes somos amados outras vezes desprezados, às vezes somos lembrados na alegria e no amor outras vezes esquecidos na dor e no sofrimento. Umas vezes andamos perdidos ao sabor dos acontecimentos e das circunstâncias exteriores, e outras vezes estamos conscientes do caminho que estamos a seguir e dos objetivos a atingir.
Creio que andando devagar vamos descobrindo onde está o nosso verdadeiro porto de abrigo. Eu acredito que lá chegarei inteira, deixando pelo caminho os fardos inúteis e carregando apenas só os necessários. Acho que leva tempo, exige silêncio, paragens, reflexões, vigílias, consultas, mas para conseguir basta estar atenta aos sinais interiores. Por muito perdida, abandonada e sozinha que eu me sinta, preciso de acreditar em mim mesma, descortinar o meu caminho para lá dos desvios, paragens e obstáculos, porque por mais doloroso que seja o momento ele acabará sempre por passar. Temos que saber encarar o dia-a-dia como fazendo parte da grande aventura que é a vida.
É sempre entre a força e a fraqueza, entre a luz e a escuridão que a minha história vai sendo escrita. Uma história pela qual mais ninguém é responsável senão eu. Uma história com muitos capítulos, com muitas personagens secundárias, com muitos lugares de descanso, diversão e encantamento, na qual apenas contam os gestos de amor que eu vou sendo capaz de ter. Uma história na qual sou várias vezes testada na fidelidade a mim própria.
Num mundo onde tudo é efémero eu sou desafiada a acreditar na existência da eternidade. Tantas vezes interrogo-me sobre o verdadeiro sentido da vida. Tudo isto sacode-me de uma tal maneira que faz-me a olhar para cima, e faz-me acreditar que existe uma força superior a mim, que me ilumina mesmo nos momentos de maior escuridão, levando-me a um encontro mais profundo comigo mesma, de tal maneira que me traz um grande bem-estar interior. É estando atenta às coisas simples da vida que eu posso encontrar o seu profundo sentido.
Saber saborear a vida e aquilo que ela nos dá cada um tem que aprender por si mesmo. A felicidade é acima de tudo, uma atitude de espírito. É claro que a forma como olhamos as coisas, a importância, do que nos é dado viver, muda á medida que o tempo passa e alteram-se as circunstâncias da vida. Mas eu penso que está nas nossas mãos ver coisas boas que vão-nos acontecendo dia a dia e sabermos o significado do próximo passo que vamos dar.
Sonhar é lindo, é como presentear-me a mim própria. Acreditar nos meus sonhos e em mim mesma transformou a minha vida numa dádiva em que tudo é possível. Só o sonho dá-me o encantamento necessário para sentir que a vida é de facto maravilhosa. Acreditar neles e ter uma atitude positiva em relação á vida é essencial para poder receber dela aquilo que de eu realmente preciso. Sem dúvida que vou continuar ainda a passar por provações e desafios de toda a ordem mas olhando com otimismo e esperança eu acredito que eles passarão a ser também uma forma de crescimento. Acredito que só eu tenho a chave para simplificar a minha vida. Para isso preciso de acreditar que os meus sonhos vão se realizar e que ainda mais o importante que isso é viver cada dia o mais plenamente possível. Em última analise a minha atitude tem que ser sempre de confiança e esperança.
Os sonhos mostram que viver não é olhar para o passado mas sim para o futuro,e ajudam a achar graça á vida e encontrar uma saída para qualquer situação. Permitem errar, aprender com os erros, correr riscos sem o receio de falhar, manter a confiança e a inspiração. Os sonhos dão-nos coragem de continuar firme nas nossas convicções na medida em que nos fazem crer que tudo é possível. Permitem-nos crescer e aprender com as mudanças que a vida nos vai trazendo. Se sorrirmos para a vida, ela certamente devolve-nos o sorriso.
Tery