Sem a biruta
Um grande marceneiro tirou todas a portas, as gelosias, acabou com os batentes, construiu diques e desviou divisas, muralhas viraram muretas, acabaram as separações.
Desapareceram a campainhas, só se batia palmas para aplaudir. A falta de lacre dava acesso a tudo, fim do mundo indiscreto que se via através do buraco da fechadura. Bancos eram violados sem violência, vacas trocavam de fazendas, sem cercas, O menino da porteira ficou sem razão para existir.
Ninguém mais pulou as catracas dos metrôs, e caíram as barreiras nas corridas com obstáculos, chegou ao fim a saudade que separa o presente do passado e o passaporte deixou de existir.
Celas, para-raio e para-vento, gaiolas, ostras e tabus viram-se sem tramelas; algemas, alianças transformaram-se em frutos da Árvore da Liberdade
Todas as trilhas de todos os labirintos convergiam para o escopo inicial de quem neles adentravam: árabes, palestinos e judeus circulavam pelo mesmo jardim.
Não se vivencia mais obedecendo a um destino, não havia mais uma sina subordinada a um rumo predestinado. Não se vivencia com o que está escrito nas estrela, agora o verdadeiro vivenciar se faz com o olhar ilimitado
Sem tramelas, cadeados ou fechaduras via-se um mundo aberto, sem fossos guardados por jacarés
Nunca mais se usou chaves, pé-de-cabra ou arrombamentos; crentes e descrentes descobririam se se pode andar ao léu