Retorno do mundo dos sonhos. E acordo certo, concreto, quase revigorado, quase angustiado, por ter que recomeçar tudo, inclusive o que não findou, só adormeceu, a esperar. Recobrando a consciência, agenda de tudo, deverei caminhar neste chão, mais uma vez. O frio, o cinza da madrugada, o medo da chuva, todos os medos se mancomunam com o gelo da hibernação.
Enquanto calafrios rondam, lâminas afiadas põem-se a cortar, em pedaços, o rescaldo que findou empedrando, na calada da noite. Cada retalho, filete preciso, agora perfila, à minha frente. Meu desafio está posto.
Estou ciente de que nada disso importa. Apesar da manhã de inverno, é preciso reiniciar. No camarim, preparo-me para enfrentar o meu destino. Roupas e adornos, vestes teatrais, figurino, fotografia. Ensaio cada cena, recoloco cada compromisso, isso, isso, no seu lugar. Contraponto ao tormento, ganho algum alento, conforto, ao reencontrar a luz do Sol, pássaros, sons, melodias, cantigas antigas, ressoar de esperanças.
Certo, concreto mesmo, este não é mais o meu refúgio imaginário. Nem forte, nem fraco, afinal, aqui serei apenas real.