POLICIA FEDERAL LIBERTA PRESA POLÍTICA MARLY COSTA
Hoje me chegou as mãos um jornal " A UNIÃO " de maio de 1983. Na manchete, " POLÍCIA FEDERAL LIBERTA PRESA POLÍTICA MARLY COSTA"
Como numa fita tudo voltou momentaneamente à minha cabeça. Esse mergulho involuntário no passado, deveu-se ao fato de ter recebido uma correspondência da Comissão de Anistia me solicitando informações sobre o fato.
Não está sendo fácil remexer nesse passado tão negro. Acho que até está me forçando a reviver tudo, dessa vez sem a euforia, sem a paixão, sem a coragem, o atrevimento, mas com outro olhar. Não que eu me arrependa de tudo que fiz, longe disso. Tenho orgulho. Mas, fico pasma quando vejo relatado tudo que passei. Acredite, foi terrível demais. A impressão que tenho agora é que estou vendo um filme no qual sou a protagonista. Lembrar é viver duplamente.
Olho essa jovem das fotos. É um olhar decidido, seguro, mas triste.
Aquela jovem agora sou eu. Revejo as fotos, os jornais e sinto um orgulho enorme a me estufar o peito. O fato de ter sido enquadrada nos artigos 40 e 42 da famigerada Lei de Segurança Nacional não conseguiu dobrar o olhar, a ideologia, nem o orgulho da nordestina arretada.
A prisão, as algemas, as celas, as ameaças, as torturas voltaram como se fossem ontem.
Agora estou aqui tendo tanto a escrever, mas as lágrimas me impedem. Meu coração está apertado e pergunto. Algum dinheiro paga?
Será que aquela sou realmente eu? Onde perdi aquele olhar atrevido?
Certamente passada a primeira emoção voltarei a escrever com mais calma. Agora está impossível.