PUNIR A SI MESMO.

A vida é feita de contrapontos, existe ambivalência em praticamente tudo, só se percebe pouco. É assim na prodigalidade, que tem contraponto na avareza.

Os pródigos gastam desenfreadamente, não há limites, mas compulsão. Comprar e desperdiçar é o móvel da conduta. Para tanto, prodigalidade, se há interesse de quem está legitimado para movimentar interdição por este motivo, a lei previne e faculta.

É uma punição civil, em princípio, mas visa proteger a patologia do que vai ser interditado. A doação de todo o patrimônio, sem reserva própria de recursos, é nula diante da lei. É uma proteção legal para o doador, imprudente e sem controle, dilapidador contumaz, abortado de discernimento mínimo, enfim, doente.

Tanto a prodigalidade que possibilita a interdição como a avareza são condutas patológicas, doentes, comprometidas pela inteligência deficiente, fogem à racionalidade. A mente está insana. A diferença é que na avareza a punição parte de quem a pratica.

O avaro pune a si mesmo, retira de suas possibilidades a vida com o conforto necessário que está ao seu alcance e não é realizado. Vivem vidas de última categoria quando podiam ter vida de qualidade. Nada compram e se compram o estritamente necessário é sempre o mais barato possível. É assim com tudo, sem exceção, da boca até os prazeres normais da vida, que não são desfrutados.

Deixam para outros viverem o que não viveram, alguns, surpreendentemente, nem filhos têm, e acumulam centavo por centavo. Para quê? Pergunta-se. Para gastarem no além, devem ter uma visão que as pessoas comuns não têm.

Diríamos que são os bancos dos futuros afortunados que usufruirão da patologia do sucedido.

É uma das piores patologias, pois aparenta não trazer dano e trás o pior dos danos, abrir mão de uma vida ao menos razoável. A natureza desfavoreceu a essas pessoas, foi extremamente dura com elas, deu a elas uma marca de irracionalidade fortíssima, nada há de mais hediondo do que ser algoz de si mesmo. E nem é percebido, acham normal o exercício de serem os carrascos de suas necessidades.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 05/04/2013
Reeditado em 05/04/2013
Código do texto: T4225017
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.