Voo de louco
Nossa história não tem princípio, meio ou fim, se localiza em algum lugar do tempo, onde se chega num piscar de olhos, pois a velocidade da nossa nave estilo pirata é a do pensamento, portanto sem padrões de medida na escala da terra, ou mesmo de qualquer outro mundo, por qual podemos aportar em busca do momento por nós tido como mágico e milagroso, o momento do brotar do amor incondicional nas consciências dos seres, pois como bons viajantes do tempo e do espaço, sabemos como é supremamente magnífico este momento iluminado, onde Serafins e Querubins e toda uma hierarquia angélica, emite sons inaudíveis aos ouvidos, daqueles cuja graça ainda não tocou os corações, seja o que for que pensemos é real e onde se encontra nosso pensamento, lá estaremos, sem pátria, sem cor de pele, sem raça, sem eira nem beira.
Nos corações abençoados pela divina graça do amor, tais sons são melodias, cânticos, que nutrem almas e espíritos, com um alimento insubstituível, fonte eterna de vida sem limites, que se esparge por todos os campos do criado e do incriado ao mesmo tempo, levando o alento, o princípio da felicidade, contida lá na chama ardente da paz, que como uma água eterna de pura abundância enche taças, que por mais que se beba delas, as almas, as mesmas estarão sempre cheias, de eternidade.
Moldamos, criamos nosso navio com uma couraça dourada invisível ao olho destreinado do incauto, que olha o infinito e não nos vê, tecendo lendas, contos e mitos, no desconhecimento de si, que sem uma busca aprimorada e disciplinada rumo à eternidade incondicional do amor, em verdade jamais poderia nos contatar, nem nós a ele, limpamos lixo mentais, construções desconexas, presenciamos vossos sonhos e ideais, aguardamos o momento de convosco celebrar vosso despertar, a entrada de vós em padrões de vida menos caótico.
Não há padrão que consiga medir a beleza do despertar de uma centelha divina em si mesma, neste auto conhecimento sem fim, nesta viagem sem partida ou chegada, se entretendo com a paisagem, colhendo as mais inesquecíveis vivências, que se sobrepõem uma a outra sem esquecimento, sem perda, sem saudade, sentindo o amor amando em si e em tudo e todos, vivendo no desconhecimento do destino, que já não importa mais, pois tudo se torno novo e completamente desconhecido ao mesmo tempo, tempo este que não existe nesta cena, que encena uma peça, ainda não criada.
Nossa nave cruza mudos incriados, mergulha fundo nos abismos ainda não imaginados, ignorando erros ou acertos pelo simples fato deles não existirem em nosso contexto, sem textos, ou verbos, só pensamentos, laçados, capturados num mar vazio de existência, onde a criação ocorre no espaço entre um pensamento e outro e num repente tudo não passou de um desvario, e nos vemos em batalhas intermináveis, onde hora somos vilões, hora mocinhos de um sonho em pesadelo, onde o acordar é impossível, onde a sanidade é loucura intrépida.
Nossa nave prossegue ao mesmo tempo que estaciona diante o corpo frio de um aparato humano e células que acreditaram na extinção da vida, nossa nave prossegue e mergulha naquela boca sem vida que um dia fez juras de amor e se encantou com o beijo molhado do amante, que hoje errante vivencia sua lucidez, vista por detrás de um copo da mais pura e inebriante cachaça, seus dedos engordurados por tira gosto de carne putrefata, se esbaldando em tal deleite, buscando imunidade frente à dor, nossa nave prossegue, em outro sol.