Sujeito analfabeto
As fontes surgem fortemente durante a vida. Especialmente por entre os scripts de um jornalista em busca de significados ao que não tem resposta. Começa um ciclo de indagações, meios e entremeios de modos e maneiras de agir, pensar. Cada mover de dedos rege um DNA. A fala, sotaques, hora de acordar, de abraçar os pais ou de não fazer nada, de só observar.
Diante do tempo levado para se realizar uma entrevista de sucesso, muitos momentos são desejáveis. Tempos de vida e obra. Tempos de experimentar os gestos, atos e falas do eu lírico, do entrevistado, do interlocutor do tele e espectador da história contada, da história escrita; da história de mais meio do que começo e fim. Antes de dialogar, é preciso conhecer; pré e pós conceituar. Mais do que formação acadêmica nas áreas de Arquivologia, Jornalismo ou História, há que se ter feeling ou qualquer percepção maior que as das cadeiras da faculdade.
O ideal a um historiador oral concerne à interpenetração devida do portador do microfone – mor auditivo que falante – no cotidiano da existência do entrevistado e, por consequência, da coexistência do entrevistador. Quanto à coparticipação do entrevistador, já irmão do observado, não é falta grave despir-se da vida inteira e propor-se a um personagem fidedigno a um ambiente adotivo, pois, ao seguir a linha (a)temporal tecida, tem-se a opção de observar que o papel de um filho adotivo é, justamente, o de protagonizar e coadjuvar o conto falado. Ele é a história e a conta sobre a família que, desde o tempo em que faz parte, é constante público entrevistado. Constitui território exterior ao DNA biologicamente legítimo, mas intrínseco ao DNA histórico e emocional.
O observador é onisciente, neste caso. O documento de arquivo é produzido por um personagem parasita que se esqueceu de viver a não ficção; que se insere diariamente nas novidades da própria vivência e na dos outros; que faz de sua narrativa, seu caminho. Ou melhor. Que calça os sapatos da história estudada.