O CANTOR
O CANTOR
Tal qual na maioria das cidades brasileiras de médio e grande porte, aqui em Taubaté, também proliferam as construções dos chamados arranha-céus. Onde antes existiam duas residências habitadas por famílias de, em média, quatro pessoas, erguem-se edifícios de vinte andares ou mais, que abrigarão com certeza, no mínimo, oitenta famílias.
Durante o período da obra, que dura de 2 a 3 anos, trabalham muitas pessoas, que provavelmente, em sua grande maioria, jamais morarão naquilo que construíram. Tudo isso que expus até agora, é mera encheção de linguiça. Vamos aos fatos:
Próximo donde moro, há mais ou menos um ano e meio, iniciou-se a construção de um prédio de 20 andares e hoje já está em pé, recebendo serviços de acabamento em sua alvenaria. Esse edifício é uma caixa com pequenas varandas em sua fachada, mais exatamente 40 varandas. José ou João, talvez seja esse seu nome, trabalha dando acabamento nessas varandas. Não sei se é um bom pedreiro, mas sei que é um excelente cantor. Desde que iniciou esse serviço, diariamente a vizinhança convive com seu cantar durante todo o expediente. Seu repertório é vasto e eclético, indo de samba, bolero, sertanejo a outros ritmos, sendo muito importante destacar que, ainda bem, não há os “maravilhosos” funks ou raps em suas exibições. A medida que ele vai subindo os andares, maior é seu público, pois o som de sua voz vai cada vez mais distante. As varandas são seu palco, e seus ouvintes, são cada vez em maior número e não ouço sequer uma reclamação quanto a sua performance. Já ouvi gente dizendo que gostaria que o distinto cantor trabalhasse aos domingos.
Agora ele está no décimo quinto andar, acredito mais uns 30 dias concluirá sua obra. Não sei se continuará trabalhando nessa obra, ou se será dispensado, indo procurar ocupação em outra construção, se for, fará falta o talentoso cantor.