Olhos felinos.

Caminhei até sua casa noite passada.

De cabeça baixa, contei cada passo e pelo chão fui catando os bons motivos em nosso passado, pra te dizer "oi".

Saber como foi seu dia, como vai sua vida.

Vida... lembrei que por um tempo não existia vida pra mim sem você e que hoje não consigo encaixar você em nenhum espaço do meu ego.

Foi você que me afastou com seu jeito mimado e egoísta, eu tenho certeza disso, mas certeza não me consola.

Eu te odeio, eu acho.

Detesto o fato de ainda pensar em você esporádicamente, esporádicamente toda noite, aliás.

Detesto teus olhos grandes de gato que me fazem odiar o som dos malditos gatos que transam a noite em meu telhado e detesto não conseguir mais ouvir nenhuma canção sem ver seu corpo dançar a minha frente, sambando em minha mente.

Sigo em frente...

Posso seguir, sou forte o bastante pra levar uma vida sem você, mas meu intimo sabe bem, eu queria ser fraco e correr pro seu colo, receber teu abraço safado que pra um perdido como eu é tão maternal e na sequência sentir outra vez seu tapa em minha face, sem me importar, se posso receber esse abraço, que venha mil tapas, que venha mil facas cravadas no meu coração viciado, toda vez que eu o entregar em suas mãos frias.

Vi você sorrindo outra noite, pensei em como pode ser tão cruel ao ponto de sorrir sem mim. Depois pensei em como é patético o simples fato de pensar assim.

Pensar, pensar, pensar... AAAH! Porquê não cravastes tua faca em meu cérebro e te arrancastes de lá ao invés de fazer do meu coração seu alvo predileto?

Eu acho que você gosta de mim e que eu não gosto de você no fim das contas. Teu desprezo e teus sorrisos em minha ausência são seu modo de provocar meu ego, e meu ego é ID e SUPER, meu ego comanda minha alma afinal, meu erro foi de alguma forma deixar transparecer esse fato, seu acerto foi só enxergar minha alma com esses malditos olhos enormes de gato.

Uma felina de lábios vermelhos num vestido preto, não sei se você é minha sorte, ou meu azar, menina.

Mas sei que não te esquecer, aprender a conviver, é minha desgraçada sina.