DOCÊNCIA OU INDECÊNCIA?
Eu sempre me pergunto o que houve comigo. Nunca quis ministrar aulas, a pesquisa era o meu forte. E, como futura pesquisadora, entrei na faculdade de História.
Sempre me dediquei a pesquisar os temas que me interessavam, que iam desde o Budismo até Jung; de Clarice Lispector a Caio Fernando Abreu; de Virginia Wolff a Truman Capote; de Shakespeare a Françoise Sagan. E assim foi a minha vida inteira. Não, não existia a internet e muito menos o Google. Eram enciclopédias e, posteriormente, catálogo das grandes editoras, onde eu poderia ir achando tudo o que havia sido escrito sobre o tema.
Na adolescência, por freqüentar lugares onde ficavam os jovens fumadores de maconha, inclusive eu também era usuária, comecei a pesquisar sobre psicologia da adolescência, livros sobre drogas, livros escritos por drogados e para drogados. E creio que foram justamente essas pesquisas que me fizeram, ainda tão jovem, não me deixar mais influenciar pelo meio em que vivia e convivia, não usar os chamados “uniformes de adolescentes”. Aos 16 anos eu já poderia ser considerada uma pessoa diferente, que tinha opiniões próprias e um vestuário que era a minha cara. Adotei os cabelos curtinhos, que uso até hoje. Enfim, eu me defini. Nunca mais me deixaria ser influenciada e não estava preocupada com o que falariam de mim. E foi nesse momento que arrumei os meus primeiros inimigos, tanto no meio juvenil como entre os adultos.
Por que será que as pessoas odeiam quem pensa com sua própria cabeça e não se deixa levar por modismos e consumismo desenfreados? Festas de aniversário? Não. Reunião familiar? Eca! Fofoca, conversa sem conteúdo? Definitivamente não.
Um ser isolado do mundo, tendo como companhias meus livros, minhas buscas incessantes por temas definidos. Ah, e a música!!!! Bem, não posso negar que eu sentia uma imensa afinidade com os gostos musicais do meu amado irmão, tão mais velho do que eu. Até hoje meu MP6 é uma verdadeira orgia musical, desde o clássico barroco, passando pelo cool jazz, mantras, ragas até o melhor da MPB.
Como poderia ambicionar duas coisas tão opostas? Ser eu mesma e ser amada pelos demais? Isso jamais seria possível, já que o ser humano tem a estranha mania de não gostar dos que não compactuam com seus gostos e com o que “eles acham” que é correto.
Até hoje, já com pouco mais de meio século de vida, sei que continuo transgressora, com meus jeans rasgados, minhas preferências literárias, meu gosto musical, meu cabelo grisalho, meu hábito de sempre dizer o que penso, meu eterno blaser preto e olhos pintados de noite (licença poética para pintura negra nos olhos). E pensam que eu me preocupo? Não. Nem saberia viver de acordo com regras ou como seguidora de multidões. Penso, logo sou autêntica e única!
Mas a pesquisadora, apesar de ter feito algumas pesquisas bem controversas (será possível que até as conclusões a que chego depois de muito ler, entrevistar e pesquisar, são contestadas? Pois é verdade, já que não compactuo com as ideias propagadas por políticos inescrupulosos que buscam se eleger a partir da escolha de bodes expiatórios), acabou em uma sala de aula.
Não, não é uma experiência ruim, já que posso divulgar a liberdade de ser, de expressar-se, de pensar. Incentivo os alunos a viver a vida e a pensar com suas próprias cabeças, sem se deixarem levar pelo lugar comum.
Mas nessa trajetória acabei descobrindo o que muitos já sabiam, mas que eu acreditava que poderia mudar. Oh, doce ilusão! Sim, a Educação no Brasil tem um preço, e bem alto: mediante o contracheque dos pais dos alunos, todos, até os mais imbecis, serão aprovados. A venalidade educacional me enoja. Podem se vender à vontade, mas não deveriam vender o futuro dos jovens, preparando-os para perder em qualquer vestibular que fizerem.
E decidi que para mim já havia chegado ao fim. Sala de aula nunca mais. Bancar a palhaça ao me deparar com verdadeiros seres acéfalos que irão ser aprovados mediante a venalidade do diretor do colégio? Não, essa não sou eu e nunca será. Hoje assumo: eduquei meus filhos, não falhei. Aqui eu tenho duas pessoas inteligentes, cultas, bem colocadas na vida, com futuro garantido.
Meu epitáfio: Nasceu, contestou, se diferenciou, pesquisou e, enquanto docente, formou duas pessoas com imensa habilidade: seus filhos. Disse não à indecência em que se transformou a docência. Viveu e jamais se arrependeu.
Este texto visa, como todos os demais, levar todos os pais e mães que o lerem a repensar a educação de seus filhos. Vale à pena pagar para enriquecer donos de colégios e ter os filhos aprovados, mas sem futuro universitário algum? Caso encontrem uma Universidade venal (claro que há!), formarão os retardadinhos, que jamais terão um emprego decente por um único motivo: falta de conhecimento.
Será que isso é Brasil? Ou está se tornando uma característica geral de nosso mundo capitalista e extremamente consumista, onde o ter sempre valerá mais do que o SER?
Por isso eu termino com uma afirmação muito conhecida dos místicos e esotéricos: EU SOU!
Emar Vigneron
Campos dos Goytacazes, 03 de abril de 2013 – 00:01 horas