Nossas janelas quebradas
As pessoas são mais inclinadas a cometer crimes em ambiente de desordem, argumenta os proponentes da teoria das janelas quebradas. Consumir drogas ou bebidas alcoólicas em público; ocupação ilegal de calçadas e logradouros e prédios abandonados; mendicância agressiva em cruzamentos, são atos antissociais que quando tolerados, estimulam as pessoas a cometerem outras violações da lei. A teoria baseia-se num experimento realizado pelo psicólogo norte-americano Philip Zimbardo com um automóvel deixado em um bairro de classe alta na Califórnia. Durante a primeira semana, o carro não foi danificado. Após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e roubado em poucas horas, por grupos de vândalos. Algo semelhante ocorre com a delinquência e o crime urbano, incluindo agressões contra a qualidade de vida e o bem estar comum.
Pessoas trafegando nas nossas ruas são confrontadas por pedintes, meliantes e oferecedores de serviços de estacionamento, cujo propósito principal, muitas vezes, aparenta ser a compensação por não danificar ou não deixar danificar a sua propriedade. O público geralmente encara passivamente essas atividades como pura chantagem social, uma espécie de tributação informal coerciva. Elas ocorrem na luz do dia, muitas vezes na presença ou omissão de policiais.
Envaidecidos pelo nosso crescente consumismo, protagonizamos o mesmo clima de exuberância irracional, que precedeu a crise econômica dos países industrializados. Construímos novos prédios, cada dia mais altos e luxuosos, enquanto abandonamos o centro da cidade, deixando nossa história sendo soterrada em escombros. Promulgamos leis de acesso às calçadas e lugares públicos, mas não aplicamos as leis relevantes à construção, manutenção e desobstrução de calçadas, hoje privatizadas por ambulantes, negócios ilegais e restaurantes informais. Tudo à revelia dos usuários de transporte público, que necessitam pontos de ônibus adequados e seguros.
Antes que sejamos divididos por uma espécie de apartheid social, pelo medo e pelo o rebaixamento drástico da nossa qualidade de vida, devemos conserta-las. Saltam aos nossos olhos, sem necessariamente procurá-las, as nossas janelas quebradas.
Palmarí de Lucena é membro de União Brasileira de Escritores
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