Convenção
Convenção
Tentar criar um rótulo para estabelecer um novo modelo de pensamento é limitar o homem e prendê-lo em convenções. Todas as épocas são atuais e todo pensamento responde ao seu tempo. O moderno será sempre antigo, assim como, a verdade de hoje é a mentira de amanhã. Responder ao mundo menoscabando épocas é se condenar de antemão, repetindo discursos que serão sempre ecoados.
Não se pode delimitar o tempo e julgar as ações que respondiam ao agora, de ontem, com o instante do hoje. O homem mensura pensamentos e ações condenando o homem de outrora para valorizar o atual. Ideais são verdades temporárias e a vida é um circulo vicioso, no qual, se pergunta de diferentes maneiras e se procura a resposta mais conveniente e a que supra, a contento, as lacunas que, sempre, sempre, existirão. Nada está completo e as peças são encontradas em diferentes estágios do tempo.
Negar é se negar; é produzir o vazio pensando que está preenchendo os espaços em branco com uma verdade provisória. Porém, o mundo é provisório e necessita de verdades momentâneas. Ao homem cabe entender a diacronia e não usar de uma didática para entender a sua própria vida, produzindo, dessa maneira, rótulos obsoletos. Tudo converge para a negação, todavia, nem tudo é negado.
A linha do tempo não tem corte e, tampouco, se dobra a interesses de uma época. O homem é filho do hoje e, portanto, será sempre antigo amanhã. O pensamento está preso ao seu tempo, responde a interesses de uma sociedade estabelecida no agora e constrói com os materiais do hoje.
A idade da vida não passa, apenas, o homem se ultrapassa, fica obsoleto, arcaico e para se consolar, o mesmo homem fragmenta épocas e tenta se reciclar, de quando em vez; o homem de ontem será sempre do ontem para o homem que nunca será do hoje.
A verdade (ou mentira) é que todas as épocas escreveram o mundo, todo homem rascunhou a história e tudo complementou a existência, mas nada, ainda, conseguiu preencher as lacunas e espaços da vida.
Mário Paternostro