Uma madrugada qualquer.
O sentimento é esse, abandono. Abandono e uma solidão tão grandes que te sufocam, sufocam tanto que você se desespera, e sem ar você não grita, sem ar a sua única reação é se debater, você se debate e reza, reza, reza sem parar, reza pro ar voltar, você reza em silêncio e pede pra uma salvação aparecer, de qualquer lugar.
Então uma lufada de ar, seu peito arde, você se assusta, mas o alivio é maior que qualquer coisa. E aquela lufada de ar, que nada mais é que um alivio temporário, se torna sua única esperança. Você se agarra a aquilo com todas as suas forças, você reza pro ar não ir embora, você implora, faz qualquer coisa, cria forças a partir dessa esperança que antes não estava lá. Você se agarra em quem estiver perto pra sair do sufoco. E você sai, um dia você respira de novo, no início você fica ofegante e atrapalhado mas em um determinado momento você respira normalmente.
Você sobreviveu. Mas a que custo? Quantos pedaços ficaram para trás? Em quem você se apoiou? Que sacrifícios você fez? Valeu a pena? Você se pergunta isso, de novo e de novo, mas só quando já pode respirar. Em meio ao desespero nada importa, nenhuma moral é suficientemente relevante, nenhum comprometimento é importante o bastante. Em meio ao desespero só o que importa é sobreviver, e tendo sobrevivido, isso já não é o bastante.