INTERNET, CÉU E INFERNO, TALENTO E TOLICE.

Antigamente o ato de escrever era manuscrito, com seguidas transformações. Os monges medievais salvaram a cultura helênica e romana dos vândalos, guardando, escondendo da sanha predadora os manuscritos feitos em couro fino, chamado velino, couro de vitelo.

Damos graças aos monges. Faz pouco tempo escrevemos demasiadamente nas épocas “jurássicas” recentes, com máquinas de escrever. Quando as elétricas surgiram, as que apagavam erros, para mim foi uma festa. Imagine-se, e escrevi muito em máquinas paquidérmicas, desde os dezoito anos.

Hoje temos o computador como referência de alternar textos anteriores, mudar, “mutatis mutandis” o que se quer, melhor, um arquivo vivo do pensamento que externamos. E na computação escrevemos em arquivo pessoal, perpétuo, ou em espaço como esse, plural, difusor de contraditórios, para mim raros. Seria animador se apresentados, mas de qualquer forma a internet nos coloca em contato com outros pensamentos, ideias, sobre o mesmo tema e direcionado ao mesmo objeto. Poucos manifestam posições contrárias, lamenta-se. O só “parabéns”, aplausos, etc, monossilábicos, usados em gênero, não embasam crescimento na troca de pensamentos.

Uma dirigência saudável, encontro de ideias catalizador e depurador. Noto um temor de divergir em geral, lamenta-se. Embate de ideias construíram as grandes teses. O silêncio mostra a desimportância e a insignificância para construir.

Este o maior pecado da internet quando não se perde em ofensas apócrifas.

É compensador viver esse humanismo na internet, para mim um laboratório maior que a filosofia ou mediar embates, conflitos de interesses, sempre encarcerados em singularismo "inter partes".

Conhecer potencialidades, suas riquezas e limitações, egos inflados e tão pequenos isocronicamente, festejados pela falta de avaliação e estrutura, talentos em quietude, avaliar o entorno vivencial de um todo fragmentado em variada ilustração, com diferentes línguas que distorcendo ou não o veículo oficial se deixam conhecer com toda a errática linguística possível, mas plena de conteúdo, que muitas vezes agradam até os mais exigentes.

“A Virada”, livro de Sthepheen Greenblatt, conta a história de Poggio Bracciolini, que se entregou a essa maravilha que é a escrita e que comunica as eras, depois das pinturas rupestres, um obstinado caçador de textos perdidos na antiguidade, pesquisador emérito, que situa com rica descrição a obra “DE RERUM NATURA” , literalmente, “SOBRE A NATUREZA DAS COISAS”, monumento literário máximo de Lucrécio.

Soubesse Bracciolini desse invento que aproxima as pessoas, computador, e as torna mudas diante de verdades incontestáveis, ou falantes na verbiagem própria dos tolos, tudo levado pela escrita, que de alguma forma, em todos os tempos, aglutinou ideias e pensamentos, estaria enormemente recompensado pelo muito que fez por essa maneira de se encontrarem as pessoas, a escrita, que tem hoje na internet um arquivo vivo e permanente da construção humana.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 02/04/2013
Reeditado em 02/04/2013
Código do texto: T4219900
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