A revista Veja caiu numa pegadinha de 1º de abril.

Quem nunca caiu em uma "pegadinha" no dia 1º de abril? Até a Veja

já. Na edição 764, de 27 de abril de 1983, a revista publicou a matéria "Fruto da carne", divulgando a "descoberta" de dois biólogos da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, os quais teriam fundido células de um boi com as de um tomateiro, produzindo o "boimate". Acontece que o fruto híbrido não passava de uma brincadeira do dia da mentira da revista inglesa New Scientist.

"A experiência dos pesquisadores alemães permite sonhar com um tomateiro do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate", escreveu o jornalista responsável pela "barriga jornalística".

Quase um ano depois do erro, em 11/4/84, a Veja divulgou uma errata com os dizeres: "na sua edição de 27 de abril de 1983, Veja publicou uma notícia na qual revelava que cientistas europeus haviam conseguido cruzar células de boi com outras, de tomate, criando uma substância que denominou de 'boimate'. A revista que tirara as informações da publicação inglesa New Scientist, caiu numa brincadeira de 1º de abril, época na qual a imprensa da Grã-Bretanha, por tradição, sempre inclui entre seus artigos uma ingênua mentira".

Familiarizados com as delicadas estruturas das células, os cientistas que trabalham com engenharia genética conseguem há quatro anos produzir microorganismos híbridos, originários de dois ou mais tipos distintos de células. O processo só funcionava, porém, para unir células de animais entre si ou de vegetais com outras células vegetais. Agora, num ousado avanço da biologia molecular, dois biólogos da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, fundiram pela primeira vez células animais com células vegetais – as de um tomateiro com as de um boi. Deu certo. Barry MacDonald e William Wimpey, que fizeram a experiência, obtiveram como resultado um tomateiro capaz de produzir frutos parecidos com tomates, mas dotados de uma casca mais resistente e de uma polpa muito mais nutritiva. Os "boimates" têm 50% de proteína vegetal e 50% de proteína animal. No todo, seu valor protéico é quarenta vezes maior que o dos tomates comuns.

"Esses tomates híbridos têm um futuro promissor na alimentação de pessoas e animais", diz MacDonald. "Basta produzi-los comercialmente a custos baixos." Isso ainda é possível. A experiência dos pesquisadores alemães, porém, permite sonhar com um tomateiro do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica. "Os biólogos alemães conseguiram alterar o curso da lei natural, que impede a reprodução de indivíduos de espécies diferentes", diz Ricardo Brentane, engenheiro genético da Universidade de São Paulo. "Essa subversão é estimulante para todo pesquisador."

Para chegar ao seu tomate especial, os dois cientistas valeram-se de uma nova técnica de fusão de núcleos de células que utiliza choques elétricos e calor. Algumas células de tecidos de um tomateiro e de um boi foram imersas em um líquido gorduroso onde, através de um eletrodo, receberam choques elétricos intermitentes que duram apenas 1 bilionésimo de segundo cada um. Esses choques rasgam as membranas externas e dos núcleos celulares – sem, contudo, matar a célula – permitindo que eles se fundissem mais tarde, depois de colocados num forno a 40º centígrados. Em seguida, as estruturas celulares resultantes da fusão, os hibridomas, são submergidas em um caldo nutritivo. Finalmente, os hibridomas brotam e se transformam em mudas de tomateiro modificadas e prontas para gerar um fruto que jamais existiu antes.

Extraído do Migalhas.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 02/04/2013
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