ASSASSINATOS NAS UTIs
 
 
Corria o ano de 1.999.

Em maio desse mesmo ano os meus amados pais completaram 50 anos, bodas de ouro, do seu casamento.

A minha amada mãe começou a enfrentar muitos problemas de saúde, decorrentes da sua diabetes, que afetara o funcionamento dos seus rins.

Depois de muitas internações e sem perspectivas de cura, ela pediu para repousar em casa, para evitar novos sofrimentos com a hemodiálise e outras providências.

Desesperados com a situação pedimos a orientação de uma prima nossa que era médica.

Após a análise clínica dela, ela nos orientou que seria melhor atender ao pedido da minha mãe, haja visto que todo o sofrimento dela, nos possíveis procedimentos médicos previstos, seriam em vão.

Então, com muito sofrimento e resignação, seguimos o conselho dela.

Nesses mesmos dias e repentinamente o meu pai apresentou problemas pulmonares.

Ele foi encaminhado para um hospital em São Bernardo do Campo/SP e após uma consulta médica ficou internado em observação e logo depois transferido para a UTI.

A partir de então só podia receber a visita diária de um familiar com duração de meia hora.

Como somos em três irmãos, nos revesávamos nessa missão.

Com o agravamento do quadro clínico dele, e porque os meus irmãos assim preferiram pois a minha mãe também precisava de assistência, apenas eu o visitava na UTI.

Numa dessas oportunidades um médico me explicou a grave situação dele e que estavam providenciando a sua entubação, para respirar por aparelhos, e que aquele procedimento era um dos últimos recursos possíveis, sendo que ele teria um tempo limitado de tentativa, pois além dele poderiam surgir outras consequências indesejáveis.

A partir disso, quando das minhas visitas, eu encontrava o meu pai entubado, amordaçado e amarrado na cama, para não livrar-se da incômoda entubação.

Nessas oportunidades eu, apesar de todo sofrimento frente à situação, procurava lhe dirigir palavras de encorajamento e esperança de que tudo melhoraria.

Poucos dias depois encontrei o meu pai sem a entubação e apenas amarrado na cama.

Ao me ver ele ficou desesperado e começou a me pedir para que eu processasse aquele hospital e aqueles médicos porque eles iriam matá-lo.

Mesmo pedindo calma à ele pois, segundo a minha opinião, nada daquilo aconteceria, ele desesperadamente me falou que na noite anterior alguém desligou os aparelhos dele e falou que ele e "aquele japonês", que ele me indicou mas que eu nem olhei, não tinham mais jeito. Ou seja, tinham que morrer!

Para acalmá-lo eu falei que não era nada daquilo, para ele se acalmar porque ele estava enganado e que tudo daria certo.

Mas naquele dia de 4 de outubro de 1999 eu sai daquela UTI completamente arrazado, achando que ele estaria delirando, e sem saber o que fazer.

No dia seguinte, 5 de outubro de 1999, o telefone tocou na sala do meu trabalho.

Alguém me chamou pois a ligação era para mim. Fui atender mas eu já sabia, o meu amado pai falecera.

Enquanto o corpo do meu pai era velado durante a noite, eu pedi e preferi ficar ao lado da minha amada mãe na casa dela.

No dia seguinte, junto com os meus demais familiares, acompanhei o enterro dele.

Alguns dias depois, em função de tanto estresse, eu tive que ficar internado durante uma semana, numa clínica de recuperação, durante o qual o meu maior desespero era saber do estado de saúde da minha amada mãe.

O que eu passei por lá, só uma outra crônica poderá contar.

Mas sei que sai de lá à tempo de encontrá-la ainda viva.

Numa das nossas útimas conversas ela me falou: "Vocês não me falaram nada, fiquem tranquilos, mas eu sei que ele já se foi".

E no dia 2 de novembro de 1999 ela também se foi e foi reencontrá-lo no astral.

Eu resolvi escrever esta crônica motivado pelas notícias atuais do Hospital Evangélico de Curitiba no Paraná.


Isso tudo sôbre o ocorrido nesse hospital ainda não passa de suspeita que deverá ser devidamente apurada e confirmada ou não. Para não correr o risco de cometer injustiça nada e ninguém deve ser pré-julgado e condenado até a conclusão das investigações.

Mas fiquei com algumas dúvidas: será que o meu pai também foi vítima desse possível tipo de crime absurdo? Ou pelo menos, tem lógica ou alguma ética humana alguém falar aquilo de terminar com a vida dele, na frente dele, e ele ouvindo? Será que esses possíveis crimes só acontecem nesse hospital de Curitiba?

Eu não tenho mais nada a fazer a não ser ter a certeza de que ele descansa em paz. Quanto a justiça eu sempre prefiro a divina, que é infalível, à dos homens, que muitas vezes é falha, mercantilista e hipócrita.

E para terminar esta crônica, deixo a poesia que eu escrevi, no dia 2 de outubro de 1999, enquanto zelava pelo sono da minha amada mãe e preocupado com a situação do meu amado pai naquele hospital de São Bernardo do Campo/SP, e que com certeza me foi ditada por algum amigo do astral, para me dar força, consolo e paz ao que haveria de acontecer e ser enfrentado alguns dias depois:
 
 

FLOR LOURDES E MANOEL ESTRELA


TODAS AS FLORES SÃO ESTRELAS;
TODAS AS ESTRELAS SÃO FLORES...

OUTONO, INVERNO, PRIMAVERA, VERÃO;
TUDO EVOLUI À CADA INSTANTE...

VOCÊS QUE ALIMENTARAM NOSSOS OUTONOS,
AQUECERAM NOSSOS INVERNOS,
COLORIRAM NOSSAS PRIMAVERAS
E REFRESCARAM NOSSOS VERÕES;

UM DIA ÁUREO, INEVITAVELMENTE E
PORQUE DEUS É JUSTO E VERDADEIRO,
NOS DEIXARÃO COMO SEMENTES NESTE CANTEIRO ÁRIDO,
ÁRDUA E CARINHOSAMENTE ARADO POR VOCÊS
E SERÃO REPLANTADOS POR TODA ETERNIDADE NO CÉU...

PARA ENFEITAR O JARDIM DO UNIVERSO,
ENOBRECER A VIA LÁCTEA,
PERFUMAR E ILUMINAR AS NOSSAS NOITES ESCURAS
E NOS GUIAR PARA O REENCONTRO NA PAZ
DA LUZ...



Escrita em 2 de outubro de 1.999 para os meus queridos pais


Manoel +5/10/1.999 - Lourdes +2/11/1.999











 
Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 02/04/2013
Reeditado em 03/04/2013
Código do texto: T4219393
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