Quase uma crônica

“Ao longo da vida, a gente vai ficando mais detalhista”... Se eu ganhasse uma moeda para cada vez que ouvisse isso ao longo da minha, compraria um carro ( E um bem caro!).Mas hoje sou grata em concordar mais uma vez: a ilustre maturidade tem razão.

Admito, meus caros. Eu nuca fui com a cara do quase.....Pra mim , o quase soava muito bege...que é uma cor que nunca consegui gostar. Porque o bege é uma cor quase branca e quase cinza, também pode ser quase marrom, ou quase bonita, enfim quase uma cor....Quase nunca é. É quase , mas não. O quase soava aos meus ouvidos como não. Não não não...Quase ,mas não. Talvez porque minha pele seja quase muito escura , ou que eu seja quase alta, quase magra, quase inteligente,quase linda, quase sortuda....Uma vez , namorei tanto que “até” Quase casei....Quase...mas não...

Convivi tanto com essa palavra que às vezes quase penso que de tanto ouvir, até acostumei e hoje essa palavra me remete à coisas boas...

Fiquei muito tempo sem manter relações ( de qualquer tipo ) com outro ser durante um tempo, era quase que um “ retiro espiritual”, se eu fosse muito rica, e muito equilibrada....Mas não, Fiquei de mal com todo mundo mesmo e não tinha grana pra sair, então resolvi curtir o meu mundo, sem falar com ninguém ouvindo meus discos ( tinha muitos vinis) lendo e escrevendo...Foi então que comecei a analisar o assunto em questão. Lá vai mais uma brilhante tese dessa filósofa que vos fala , que deveria estar dormindo, mas deseja muito dividir os pensamentos que deveriam ser refletidos em um quarto escuro sem ninguém perceber.

O quase começa a ficar interessante quando você já tem o não. Não digo o não natural, mas o não profundo, o não que já espancou a alma e deixou cansada. Quando surge um quase, esse quase é um alivio. Um ventinho fresco num calor infernal... Um gole de água no deserto, Aquele soprinho que a mãe dá quando você machuca. Não sara. Mas quase...

O quase, depois de um coração cansado de tanto apanhar vira um sorriso meio de lado, um olhar de esperança, um olhar que pede beijo, um beijo quase na boca, um abraço apertado que dura alguns minutos e quase torna um só, o quase enlouquecer mas segura a onda, os vestidos que quase davam pra ver os seios, o beijo que quase virou sexo...

É o quase que te dá o frio na barriga. Se você pensar em uma situação romântica, marcante da sua vida, feche os olhos e tenta lembrar-se do quase...

Esses detalhes são tão importantes, porque bem chegam rápido aos nossos olhos, mas demoram anos para sair da memória. O pior é que você não nota quando se é adolescente....o quase, para a grande maioria não existe! Uma grande pena. Quase morro de dó....Quase, mas não.

Priscila Rezende
Enviado por Priscila Rezende em 02/04/2013
Reeditado em 13/05/2023
Código do texto: T4219191
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