Estranha Rosa
Ao fundo do triste silencio da madrugada ouviu-se um pequeno baque surdo do som de uma rosa contra o chão, ela bateu contra a lapide com a força suficiente para se levantar novamente, fazendo suas folhas retomarem voo e algumas outras ganharem a liberdade, ou a morte, se preferir...
Logo que a rosa maltratada parou seus movimentos, me pensei no fato de não a ter jogado com mais cuidado, e isso me fez lembrar das brigas sem motivos e dos motivos que não eram necessárias brigas, aonde gritávamos contra o inanimado por estarmos tão acostumados, e ao fundo do cômodo, despedaçávamos uma rosa inerte sem intenção, pelo simples motivo de ama-la.
Rosa que não se mexe, não se move, não trabalha. Que se partia em mil pedaços na esperança de alguém perceber e juntá-los, mas suas folhas voavam ao intuito de ganharem a liberdade, ou a morte (se preferir), e o cotidiano constante nunca me fez reparar que a liberdade aponta para o que está preso, por que ter conhecido um dia a liberdade não é tarefa fácil para todo mundo, às vezes nunca chegamos a conhecer, mas no caso da rosa, chegava junto ao ultimo momento.
Mas as suas pétalas não me comoviam, o seu choro não me comovia, por que o cotidiano machuca, e quando procurando fugir desta dor nos tornamos frio sem perceber que não somos os únicos a sentir dor, mas a liberdade tem seu preço. Isso me faz lembrar da rosa que ganhei quando era criança, que não dei quase nenhuma importância, além da qual posteriormente a deram, que era de tacá-la em um pequeno pedaço de terra. Espaço a qual, em especial, chegou a ter um nome, mas não reparei por que eu era pequeno demais para a rosa ganhar alguma velocidade na altura, que caiu inerte.
Não me foi por falta de explicação, não entendi por que eu não quis, não via nada à minha frente, inclusive todas as pétalas que voavam pelo cozinha partindo do canto da mesa, aonde não costumavam sentar, pois não costumávamos trocar de lugar à mesa, apenas tínhamos um canto inerte, assim como a rosa, que nunca deixei de amá-la.
Não me deixava perceber que pétalas são vestígios de liberdade, que as lágrimas são vestígios de saudade, que a indiferença é a falta de vontade, que cada pétala dizia que eu precisava amar como se fosse o ultimo dia, e eu o fiz, só que da forma errada. E mesmo assim a rosa repetia que não existe forma errada para amar, que no fundo ela sempre era a causa e a razão da dor, que não deveríamos tentar entender o amor. Quem me dera eu, que mal entendia a rosa...
Fingia ser dono do meu tempo, com o simples pensamento, de eu poder ser eterno. Mas talvez eu realmente fosse, mas a rosa não, que um dia inerte em seu canto, soltou sua ultima pétala. Pétala a qual, ganho voo junto com o som agudo e continuo de algo semelhante ao um apito, mas novamente, não me deixei entender.
Vi-me novamente ao encontro das terras com nomes, com o nome Rosa, só que desta vez poderia entender, mas não quis, na frente da lapide que dizia, “Para aquela que nos ensinou a alegria, sem perder a liberdade”, soltei um vestígio de agonia, misturado com gotas de saudade...
- Uma rosa, para minha rosa, Rosa...