Idéias quase impossíveis

Sempre quis viver de minhas idéias, e idéias tenho aos montes, a maioria fantasias irrealizáveis, uma espécie de divertimento ou anedotas sobre as situações ridículas em que nos vemos envolvidos na vida diária. Creio que boas idéias não são muito inovativas, mas resolvem os pequenos problemas ainda não muito bem resolvidos, como, por exemplo, fazer um saca-rolhas ou um quebrador de nozes perfeito. Assim eu poderia ser um inventor, um profissional das idéias, um Tomas Edison do século 21, o mago de Menlo Park, que mudou as nossas vidas com as suas invenções. Tudo o que seria necessário para isso seria tempo disponível para pesquisas e recursos para desenhar e testar protótipos. Depois, era só registrar no Escritório de Patentes e recolher o dinheiro resultante da aplicação dos inventos pelos próximos cinqüenta anos. Ah! Que vidão!

Mas o negócio não é tão simples assim, o ramo de invenções tem uma competição acirrada e o mais lucrativo seriam as inovações referentes à eletrônica e informática, o que fica difícil para a iniciativa pessoal, pelos altos investimentos necessários ao desenvolvimento dos produtos.

Então teria que me restringir ao básico, à mecânica simples, o que ainda pode render muito no Brasil e em vários outros países pobres. Por exemplo, melhoramentos na enxada, esse maravilhoso instrumento de trabalho, a caneta dos pobres do campo, que sabem muito bem que uma enxada com o cabo errado pode dar muita dor nas costas e calos nas mãos. Então, um cabo de enxada anatômico, de liga de titânio, leve e resistente, com o comprimento ajustável e amortecedor para diminuir o tranco nas mãos poderia ser um produto inovativo no Brasil, África e partes da Ásia, um mercado de muitos milhões de peças por ano. Fazendo-se as contas aproximadas, digamos, um milhão de peças por ano, a um preço baratinho de quarenta reais, teríamos um mercado anual com faturamento bruto de quarenta milhões de reais, o que poderia render um por cento de lucro para o felizardo que patenteasse o invento, ou seja, quatrocentos mil reais por ano, ou trinta e três mil reais por mês. Quer negócio melhor? Melhor que livro de auto-ajuda, e talvez com uma utilidade infinitamente superior. A grande questão é se o caboclo iria gastar os quarenta reais para ter mais conforto e eficiência, ou preferiria cortar uma jovem árvore de graça no mato para fazer o seu cabo? Temos que botar fiscais do Meio Ambiente nesses caboclos, para preservar as nossas árvores!

E assim brotam os inventos. Teria vários outros para relatar, como por exemplo, o Dispositivo de Troca Rápida de Botijões de Gás (vocês já perceberam que o gás só acaba quando estamos cozinhando?), ou a armadilha para pegar mosquitos (essa já foi inventada, vi outro dia na televisão), ou o dispositivo Coletor de Gases de Automóveis, que reduziria a emissão de boa parte dos gases do efeito estufa.

Com um conjunto de cinco a dez inventos patenteados eu garantiria o meu sustento confortavelmente e ainda os deixaria de herança para os meus filhos!

Mas como a minha imaginação é grande e a minha capacidade de realização vem se demonstrando ser quase nula, em vez de me dedicar aos inventos, dedico-me a escrever-los. Vou escrever um livro sobre os meus inventos irrealizados. Talvez venha a ser um best-seller e eu consiga faturar os inventos, ao menos no papel. É isso ou auto-ajuda. Talvez escreva outro livro sobre “Como fazer inventos”.