A outra.

Sou casado há 21 anos.

Temos uma relação sem muitos percalços, que nos deu dois filhos maravilhosos, hoje com 13 e 17 anos.

Mas tem coisas que fogem ao nosso controle, fazendo o coração bater de outro jeito, vai saber.

É algo que acontece sem avisar e, de repente, nos vemos dividindo o nosso afeto, a atenção e o cuidado com outra.

Isso acontece com inúmeros casais e, na maioria das vezes, ficam anos vivendo num anonimato que não chega a interferir, ou prejudicar, a relação "principal".

Ter colocado a palavra entre aspas foi até irônico, porque depois de tanto tempo fica difícil definir qual das duas relações é a principal.

O amor é um negócio esquisito, paixões brotam do nada e ficam lá, anos a fio, mostrando todo seu vigor e fincando seus tentáculos na nossa carne feito âncoras de aço.

Confesso que não sinto culpa por manter as duas relações paralelas a tempos.

Sou bom pai, bom marido e penso que sou cumpridor das obrigações que ambas funções deterrminam.

Confesso, também, que tenho pela outra um carinho todo especial.

Gosto do seu cheiro, de acarinhá-la sempre, adoro vê-la dormir e despertar.

Nos amamos de um jeito só nosso, através do olhar conseguimos dizer muitas coisas, até as coisas que normalmente temos dificuldade de colocar pra fora.

Temos muito prazer em passear e, nessas horas, os problemas do cotidiano vão pra longe.

Sinto que estamos envelhecendo juntos e, nessa caminhada, compartilhamos com carinho cada novo passo.

O amor é um tonel de mistérios.

Não temos a capacidade de entender, nem tampouco traduzir, suas leis, seus meandros.

Com a outra sinto muita felicidade, reciprocidade e ternura a cada gesto, diferente do que acontece na relação "oficial".

Sei que um dia teremos que nos separar, são coisas da vida.

Nessa hora, certamente, não ouvirei um adeus ou algo neste sentido. Nessa hora, terei um au-au derradeiro que nunca mais sairá da minha alma.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 01/04/2013
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T4217615
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