Vivendo Imperfeitamente

Apesar da pluralidade do conceito de perfeição ou mesmo questionando sua efetividade - afinal, existiria perfeição? - parece haver uma constante busca por parte de algumas pessoas por esta. E como é pesado o paradigma da perfeição! Estaríamos condicionados a tentarmos ser absolutamente perfeitos? A tentativa de ser a pessoa perfeita, levando uma vida perfeita, em um mundinho perfeito. Talvez, dentro da singularidade de cada um provavelmente em algum momento da vida todos nós já inclinamos para tal idealização, seja querendo ser o profissional perfeito, o amigo perfeito, o aluno perfeito, os pais perfeitos, filhos perfeitos, ter o corpo perfeito, o relacionamento perfeito e por aí vai. E, às vezes, ao assumirmos uma postura imperfeita no meio do caminho, sem dúvida sofremos com a desilusão e suas consequências, muitas vezes determinadas por nós mesmos. Entretanto, tendemos a seguir o que é aceito, o modelo perfeito segundo a padronização social. O que foge à margem, à curva normal, é alienado. E assim vivemos bovinamente, segundo o rebanho. Consideramos então a ideia de perfeição de acordo com a maioria? Talvez um grande número de pessoas afirme que um final de semana perfeito seria à beira mar, com águas cristalinas e tranquilas e, desta forma, vira uma ideia imperialista. Estaríamos influenciados a suprir uma demanda social pela busca da perfeição? Bem, creio que a representação desta está relacionada ao que é aceito pelo todo, de acordo com o social e, principalmente, segundo o grupo no qual estamos inseridos. É paradigmática. Sob uma perspectiva mais abrangente, haveria influência religiosa associada à ideia de perfeição divina e, desta maneira, nos projetaríamos diante de tal representação? Afinal, seríamos a "obra perfeita" do criador. Os pensadores da antiguidade também discorriam amplamente a seu respeito. Enfim, o que é a perfeição? Uma pessoa pode ter uma ideia do que é perfeito para si, enquanto outra postulará alguma outra coisa. Apesar da abrangência do conceito, algumas premissas acomodam-se ao senso comum. Para atender esta demanda social buscamos estar de acordo com determinado perfil, o qual é quase impossível de ser adotado. Analogamente, talvez seja o motivo pelo qual observamos as pessoas inventado-se cotidianamente nas redes sociais. Afinal, em um mundo virtual podemos ser quem quisermos e da maneira que quisermos, mesmo sendo nós mesmos. 

         

Mas o que considero realmente importante é a reflexão sobre como a necessidade de perfeição pode paralisar a vida e nos deixar "engessados" ante a impossibilidade de correspondê-la, e como nos cobramos por isso! Aceitar-se como imperfeito possibilita reconhecer as próprias virtudes e potencialidades, sim, mas também ter consciência de nossas limitações. Somos pessoas falhas e não há nada de errado nisso, faz parte da essência humana, todos nós possuímos pontos fracos e fortes. Ninguém é perfeito, livre-se desta bagagem e esteja mais leve consigo! Erramos o tempo todo, seja como pais, filhos, amigos, profissionais, etc. Mas podemos sempre melhorar, SEMPRE.

  

Não, nós não vivemos em um mundinho perfeito, uma vidinha perfeita, sendo a pessoa perfeita. E por favor, não tentemos sê-lo! Faz mal à alma e à saúde. Nós damos mole sim, marcamos bobeira, levamos rasteira. Levantamos, sacudimos a poeira e damos a volta por cima. E se não der a "dita" volta, não se torture! Paciência! Ao menos você tentou e ficará o aprendizado, a experiência e, tenha absoluta certeza, o valor desta é inestimável. Somos imperfeitos, sim. Nem sempre as coisas saem à nossa maneira. E daí? E daí se você não possui a família clichê do comercial de margarina, o casamento não deu certo, você não tirou nota 10, seu filho não é como você gostaria, você não tem tantos amigos ou ainda não conseguiu iniciar aquele curso que tanto sonha? Não seja tão exigente! Parafraseando Rubem Alves, "a vida dá espaço para manobra." Reinvente-se, não virtualmente, mas efetivamente. 

Somos pessoas imperfeitas vivendo uma vidinha imperfeita em um mundinho imperfeito. Aproveite!

Luciana Huche
Enviado por Luciana Huche em 30/03/2013
Reeditado em 31/03/2013
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