O fim do mundo

O fim do mundo está aí, embaixo dos nossos narizes, não há como fugir. O fim do mundo é inevitável e devemos encará-lo como algo predestinado para nossas mortais e pacatas vidas. No entanto, não devemos nos desesperar, devemos aprender a conviver com o fim do mundo. A agência espacial americana (Nasa), após receber uma enxurrada de cartas de pessoas seriamente preocupadas com teorias interpretadas sobre o calendário Maia que preveem o fim do mundo no final de 2012, resolveu “desmentir” esses rumores na internet e até alerta sobre possíveis suicídios.

Discordo da Nasa, de que o fim do mundo seja uma mentira, mas também não penso que seja caso de suicídio. A verdade é que o fim do mundo é relativo e acontece todos os dias, de maneira individualizada, é claro. O seu fim do mundo pode não ser o meu fim do mundo, e assim vice versa. No mais, muitas das vezes, com o passar do tempo, o fim do mundo pode até ser positivo.

Por exemplo, quando o seu patrão lhe chama no escritório e diz que você está despedido, daquele emprego do qual você já estava acomodado e se sentia tão bem, pode ser o seu fim do mundo. No início você pensará que está tudo perdido, que não encontrará outro emprego, mas isso é superável. Com a ocasião outro emprego aparece e logo você estará acomodado de novo, pronto para outro fim.

Para outros o fim do mundo pode ser o casamento. Com o casamento vem o fim do futebol semanal, que você tanto gostava. Pois agora a mulher lhe proíbe de jogar com os amigos. Ela até finge que lhe deixa jogar, mas sempre arruma algo para você fazer justamente na hora do futebol. Com o início do casamento vem o fim da cervejinha após o expediente de trabalho, o fim das baladas, o fim das antigas amizades que eram eternas. Mas com o tempo você se acostuma com o fim do mundo e até passa a gostar.

O fim do mundo pode ser a notícia que vêm dos filhos. O boletim final dizendo que seu filho reprovou na escola pública. A filha adolescente dizendo que está grávida do namorado sem futuro. Mas nada disso é motivo para suicídio. Logo seu filho começa a repetir o ano escolar e você nem se lembra mais de que ele é um reprovado. Assim que o netinho nasce você fica babando e até passa a dar uma ajuda financeira para o genro sem futuro.

O fim do mundo pode vir também por uma notícia de telefone. Aquela desagradável notícia de que sua sogra, que lhe implica o tempo todo e você não se da bem, irá passar o Natal e o Ano Novo com vocês. Isso também não chega a ser uma catástrofe irremediável a ponto de pensar em suicídio. Como eu disse, o fim do mundo, apesar de ser inevitável em nossas vidas, é algo do qual devemos aprender a conviver e a superar.

Com o passar dos anos as coisas se ajeitam nos seus devidos lugares. Quantas e quantas vezes morremos de rir de um acontecimento que um dia foi o fim do mundo?

(Texto publicado nos jornais Diário da Manhã, Jornal do Tocantis e Gazeta New).