"ISCARIOTES" ESTÁ SOLTO

Quando hoje me surgiu a inspiração para esse texto, logo pensei:

"escreverei um ensaio ou uma crônica?".

Tal dúvida me confundiu o sentimento posto que hoje estamos em pleno Sábado de aleluia, e entre nós, teológica e culturalmente se comemora a malhação de Judas Iscariotes, o personagem Bíblico que ao se rebelar contra Jesus Cristo se consagrou o maior traidor de que se tem notícias pela história da humanidade.

Por outro lado, pensei na qualificação "crônicas" porque o tal personagem é sempre muito mais real, deveras muito mais presente no nosso entorno de vida do que possamos acreditar a ocultamente se dissimular para permear com perspicácia e gentileza a história nossa do dia- a- dia.

A Bíblia consta ser o livro mais lido em todo o planeta e não seria por menos: ali, histórica e metaforicamente encontramos ilustrações e orientações para todo o sentido da nossa tão misteriosa presença na vida terrena.

Assim sendo, Judas Iscariotes não deixa de ser uma rica e grande metáfora de vida, uma alegoria muito triste que nos ilustra "biblicamente" que temos que orar...e vigiar "full time".

Orar para que Deus nos ilumine pelos nossos caminhos com o discernimento necessário, com a percepção acurada de que em qualquer esquina, mesmo nas esquinas que nos parecem mais íntimas e seguras, um metafórico "saquinho de moedas" pode valer muito mais do que a luz da integridade espiritual que ofusca qualquer perversão dissimulada do caráter.

Nesse contexto eu pergunto: Quantos Iscariotes malhamos pela vida? E como os identificar?

O seu perfil é sempre muito característico: inseguros, mal resolvidos, invejosos, aproveitadores de situações, carreiristas de oportunidades desprezíveis, vaidosos, preguiçosos, desfocados dum sentido principal de vida, de humanidade e de interesse para com o próximo.

Mas como têm discursos doces e encantadores...

Os Iscariotes da vida são sedutores umbigos gigantes...

Seduzem até as pedras! Enganam os de boa fé, os bem intencionados de límpida vontade, os ditos ingênuos de espírito.

Aliás, foi o próprio Cristo que nos ressaltou e prometeu: "bem aventurados os pobres (humildes) de espírito, porque deles será o reino dos céus".

Não foi a toa que Cristo morreu na Cruz antes nos encenar pela vida a sua Paixão por nós, a que nos ensinaria o verdadeiro caminho, ainda que tenhamos que enfentar nossos traidores.

Os Iscariotes estão perdoados, porque foi assim que Ele nos pediu e nos ensinou.

Outrossim, o povo nunca perdoa, porque culturalmente povo é emoção, é fácil manipulação, quase sempre é pouca razão.

Então, hoje é dia de malhar o Judas. Aleluia! Aleluia!

Cada um que use dos instrumentos que melhor lhe couber para a exteriorização das suas perplexidades mundanas.

Seja crônica ou seja ensaio, não importa, o que vale é o lembrete: apesar de todos os ensinamentos e advertências Bíblicas, Iscariotes sempre estará solto...e fortemente presente na Terra.

Paradoxalmente, sua passagem terrena é sempre ensinamento vivo, lição dura, constante e necessária para o aprimoramento do desenvolvimento e da vigia espiritual de cada um dos Homens.

Ainda que a Verdadeira Vida nos tenha a nós tão altruísticamente ressuscitado no Terceiro Dia, a figura de Iscariotes é destino holístico e inexorável entre nós, os ainda denominados

"Homens de pouquíssima fé". (Lucas 12:28)