Os ossos do fundador



     Salvador completou, ontem, 464 anos.  Fundada em 29 de março de 1549, foi a capital do Brasil, a primeira, até 1763. 
     Tomé de Souza foi o seu fundador, e o primeiro governador-geral do Brasil. 
     Recordo esses dados na suposição de que muitos jovens soteropolitanos, agora ligados em coisas por muitos consideradas supérfluas, por acaso os desconheçam.
     Eu disse soteropolitanos. Dia desses, alguém me perguntou por que em minhas crônicas, sempre que falo de ou em Salvador, chamo os que aqui nasceram (ou que aqui moram) de soteropolitanos.
     Sim, poderia chamá-los de salvadorenses, com a concordância do bravo gramático Luiz Antônio Sarcconi.
      Talvez, pela origem ou formação do vocábulo, gosto mais de chamar os filhos de Salvador de soteropolitanos. 
     Explicaram-me os eruditos, que soteropolitano vem de soterópolis: resultado da junção das palavras gregas soter, Salvador, com polis, cidade.
     Há notícias de que o padre jesuíta Manoel da Nóbrega sugerira que os baianos de Salvador fossem chamados de soteropolitanos; e não são-salvadoretas, como propôs Tomé de Souza, pensando nos lisboetas.
     Antes de falar sobre o fundador de Salvador, saibam o que teria acontecido com Pedro Àlvares Cabral, o "descobridor" do Brasil.
     Li em algum livro, que o nosso Pedro nunca se deu conta da importância do seu feito histórico, posto que, o destino de sua esquadra, por motivos comerciais, era as Ìndias. 
     O escritor gaúcho Eloy Terra, no seu livro Crônicas Pitorescas da História do Brasil, diz, entre outras coisas, que o almirante "nunca mais retornou ao Brasil". 
     E que Cabral morreu em 1529, com 62 anos de idade, como simples agricultor, em sua fazenda. 
     E seus restos mortais? Ainda segundo Eloy Terra, parte deles está enterrada no Convento das Graças, em Santarém, Portugal, e a outra parte na Catedral do Rio de Janeiro. 
     Minha modestíssima opinião: antes o houvessem enterrado, sem tirar-lhe pedaços, em terras brasileiras. Aqui, com certeza, ele seria melhor lembrado e reverenciado. 
     Se nunca mais voltou ao Brasil? Creio que não o fizera por ingratidão, mas por ignorância. 
Perdoado, portanto, está o almirante.
     E por falar em restos mortais, onde estão os de Tomé de Souza? O que fizeram do seu cadáver? 
     Na edição comemorativa do aniversário da cidade, os jornais de Salvador publicaram que Tomé de Souza está enterrado em Portugal, num velho Mosteiro, construído em terreno particular. 
     E o mais desagradável: que seu túmulo encontra-se em ruínas.
     Noticiou-se que um advogado de Salvador entrou em campo visando trazer para a capital baiana os restos mortais do seu fundador. Nada mais elogiável; nada mais justo.
      A proposta do ilustre causídico deve ser levada em consideração pelas autoridades brasileiras. E na Bahia, o pleito deve ser imediatamente acolhido pelo Governo do Estado. 
      Que, trasladados os ossos do fundador de Salvador, o Estado (ou a Prefeitura?) dê a Tomé de Souza um mausoléu tão imponente quanto o campo de futebol - o nosso circo - apelidado de arena, pronto para ser festivamente inaugurado.

Nota - Foto da Basílica do Bonfim colhida no Google.
 


      
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/03/2013
Reeditado em 16/10/2020
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