Eles São Amigos ...
                ... ou  Será Que São!?


Uma certa vez, lá por volta de 1994, quando eu andava meia frustrada com o meu trabalho numa escola de idiomas só para executivos, eu orava muito pedindo a Deus para me livrar daquele pesadelo todo, e logo! Não queria continuar lá, não pelos alunos mas sim pelo meu 'boss', tá. O sujeito era insuportavelmente arrogante e convencido. E além do mais, aproveitador. Vivia pedindo favores como ficar no lugar da recepcionista e ajudá-lo a fazer traduções, mas nada de recompensa ou um bonus. Apenas dizia que era para o bem da escola e dos colegas que ele solicitava tais favorzinhos. Sei ... ou melhor, sabia.

Quem leciona não pode simplesmente cair fora do emprego. É preciso planejar, fazer estratégias para não se dar mal. Quem quer lecionar em escolas de idiomas precisa correr atrás logo no início do ano por que as aulas começam em início de fevereiro, se o Carnaval é em março, em março, se o Carnaval é em meados de fevereiro. Pelo menos era assim até eu me mudar de SP para Joiniville. Você vai ter que fazer um bom treinamento para conhecer a metodologia e política da empresa-escola, os livros, o ambiente, o perfil do aluno, as provas que serão aplicadas, os testes de nivelamento, etc, então serão umas 4-6 semanas de full-time training. Também há procura por teachers entre junho-julho, para cursos iniciando em agosto. 

Mas eu queria puxar o carro o mais rápido possível de lá! E tudo culpa de quem? Do meu irmão mais velho! Sim! Meu big brother Frank! Eu procurava emprego uns oito meses antes e ele disse que tinha um amigo que estava abrindo uma escola. O salário era muito bom, a escola atenderia os executivos da região da Berrini e não teria mais do que seis alunos por turma. Hummmm ... Sounded like a picnic in the park! O meu irmão entrou em contato com o tal amigo e fui fazer a entrevista. Eu e o tal amigo do meu irmão conversamos por mais ou menos 90 minutos. Ele deixou claro que a escola seria 'lean and mean' (enxuta e fera), com foco em executivos que precisavam aprender, manter e melhorar o inglês. Achei interessante e aceitei ser uma das teachers no staff daquela nova escola. Com certeza não seria como sentar no pudim ou "a piece of cake".

Mas o tempo foi passando e o 'boss', tá, começou a soltar o espírito de capataz enrustido que havia dentro dele. O staff era bem 'lean', apenas três professoras, uma recepcionista e o 'boss' que também lecionava. Todos tinha uma carga horária muito boa e a escola fechava às 19:30. Mas o 'boss', tá, não era flor que se cheirava. Era um cactus!

Um dia cheguei a falar com a minha Mãe sobre a situação toda, quase chorando, e ela penalizada recomendou que eu saísse de lá e já. Mas eu argumentei que não poderia sair assim e deixar o dono na mão, afinal, estávamos no comecinho do mês de setembro. Além do mais, eu trabalhava para o amigo do meu irmão e seria uma tremenda sacanagem eu sair assim e ainda por cima sujar a imagem do meu irmão mais velho que era tido como boa praça, o cara, 'the teacher' no nosso meio profissional. Minha Mãe simpatizou comigo mas na certa ela padeceu com a idéia de eu não estar curtindo o quê eu mais adoro fazer: LECIONAR INGLÊS.

E assim eu fui aturando o 'boss', tá, e aquele clima pesado na escola por que as outras duas professoras confessaram que também queriam sair, mas o salário falava bem mais alto do que o jeito desagradavel do 'boss' nos tratar e por isso faziam o sacrifício em ficar. Fiquei na minha e orava cada vez mais a São José, o Padroeiro dos Trabalhadores. Aprendi a recorrer ao santo Pai de Jesus aqui na terra quando dei aula no Belenzinho em São Paulo. Toda semana sagradamente dava uma passadinha na Igreja de São José e rezava pedindo proteção e paz para mim e todos aqueles que participavam do meu dia a dia. Durante a festa da minha paroquia, comentei que fazia preces ao santo e que rezava na igreja do Belenzinho. A amiga da minha Mãe, que era devota fervorosa achou meu entusiasmo pelo santo tão bonito que me presenteou com uma bela imagem de São José e me revelou que ele também era o Protetor da Família. Eu botava fé no meu santo e sabia que ele daria um jeito no 'boss', tá! 

Até que um certo dia peguei minha Mãe discutindo com o meu irmão na sala de estar. Ela parecia bem irritada e perguntei o que eestava acontecendo. Ela apontou o dedo indicador da mão direita dela na cara dele e disse exigindo, "Diga pra sua irmã o que você me contou agorinha ... vai conta logo! Vamos!" Aí ele falou, "A Mamãe comentou que você estava pensando em sair lá do seu trabalho mas que não queria me deixar mal com o meu amigo. Bem ... sabe, na verdade, ele não é meu amigo. A gente só tomava café junto lá no Zero Grau na Praça da República depois das aulas na RMB. Ele dava aula lá também e as vezes a gente se esbarrava e tomava um cafézinho junto. Então, agora sabe que ele não é bem um amigo meu. Ele é apenas um conhecido, né". Eu queria voar no pescoço do meu irmão naquele instante! Mas como!? Não eram amigos? PQP! Homem é mesmo soda quente e sem gás! Toma um cafezinho juntos e já são amigos! Soltei os cachorros e a fera dentro de mim também! O meu irmão só dizia, "Sorry Pat, sorry!" Naquela hora só tinha uma palavra que descrevia o meu irmão: ASSHOLE! (Não vou traduzir por que seria baixar de nível.)

Com certeza você já deve saber o que aconteceu depois. No dia seguinte fui trabalhar normalmente, só que na hora vaga liguei para meus colegas e amigos coordenadores e sondei sobre aulas. Prometeram repassar qualquer informação ou dica interressante e me desejaram boa sorte. Claro que pedi uma reunião com o 'boss', tá. Comuniquei que estava determinada a deixar São Paulo por causa da violência toda e também por que meus filhos queriam morar mais parte dos primos e tios. Ele disse que compreendia e pediu que eu esperasse pelo menos uma uma semana até ele arranjar uma professora tão qualificada quanto eu. Mas aí, eu fui logo dizendo que eu tinha "uma amiga" perfeita para ficar no meu lugar ; ) 



Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 29/03/2013
Reeditado em 30/03/2013
Código do texto: T4213750
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