Vinícius
Acaba de completar 100 anos e a cada dia mais jovem, já que os poetas dignos do adjetivo não morrem e a cada leitura de um texto seu, é provável a descoberta de uma nova mensagem não imaginada antes pelo leitor ou pelo poeta.
Lembrei-me de um texto que escrevi há algum tempo, o segundo do Nilsson: O filho que eu quero ter
"Teatro Castro Mendes. Ingresso para o primeiro show da noite.
Com uma pontualidade surpreendente naqueles tempos, exatamente às 8 horas entram no palco: um violão amansado e seu domador, um respeitável senhor entrado em anos com seu inseparável Chivas e uma moça deslumbrante, vestida de branco.
O moço de bigode extrai sons improváveis, sorrisos descontrolados e gritos histéricos, logo aplacados pela visão do velho diplomata que, tal um papa bondoso, senta-se e estende um dos braços como que abençoando a platéia com sua voz rouca e fazendo o silêncio dos olhares deslumbrados misturar-se à incredulidade das bocas abertas. Era ele mesmo e estava ali para nós.
A moça, se já não fosse baiana se tornaria ali naquele mesmo momento, rodava a saia e fazia levitar pelo ambiente as nuances de uma voz aveludada que nos acariciava: "Maria era um boa moça..."
Era um show de Vinícius, Toquinho e Maria Creuza?
Não! Era puro prazer.
Lá pelas tantas, Vinícius começa a contar histórias e numa delas fala de uma das muitas viagens com Toquinho, quando o ouviu confessar um desejo e, por julgá-lo tão humano e emocionante, compôs um poema que o próprio Toquinho musicou:
"É comum a gente sonhar / Quando vem o entardecer / Pois eu também dei de sonhar/ Um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço e nele eu me debruçar / Com um pranto a me correr / E assim chorando acalentar / O filho que eu quero ter.
Dorme meu pequenininho / Dorme que a noite já vem / Teu pai está muito sozinho / De tanto amor que ele tem.
De repente eu o vejo se transformar / No menino igual a mim / Que vem correndo me beijar/ Quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a perguntar / Um por quê que não tem fim / Um filho a quem só queira bem / E a quem só diga que sim."
Toquinho queria ter um filho. Vinícius já tinha muitos, mas com a ternura que o olhava naquele momento, com certeza gostaria que o novo "parceirinho" fosse um deles.
Não preciso dizer que dei um jeito de ficar também na 2a. sessão. Aliás, se alguém procurar com cuidado é até possível que me ache ainda lá..."
Leo(Nilsson)
Acaba de completar 100 anos e a cada dia mais jovem, já que os poetas dignos do adjetivo não morrem e a cada leitura de um texto seu, é provável a descoberta de uma nova mensagem não imaginada antes pelo leitor ou pelo poeta.
Lembrei-me de um texto que escrevi há algum tempo, o segundo do Nilsson: O filho que eu quero ter
"Teatro Castro Mendes. Ingresso para o primeiro show da noite.
Com uma pontualidade surpreendente naqueles tempos, exatamente às 8 horas entram no palco: um violão amansado e seu domador, um respeitável senhor entrado em anos com seu inseparável Chivas e uma moça deslumbrante, vestida de branco.
O moço de bigode extrai sons improváveis, sorrisos descontrolados e gritos histéricos, logo aplacados pela visão do velho diplomata que, tal um papa bondoso, senta-se e estende um dos braços como que abençoando a platéia com sua voz rouca e fazendo o silêncio dos olhares deslumbrados misturar-se à incredulidade das bocas abertas. Era ele mesmo e estava ali para nós.
A moça, se já não fosse baiana se tornaria ali naquele mesmo momento, rodava a saia e fazia levitar pelo ambiente as nuances de uma voz aveludada que nos acariciava: "Maria era um boa moça..."
Era um show de Vinícius, Toquinho e Maria Creuza?
Não! Era puro prazer.
Lá pelas tantas, Vinícius começa a contar histórias e numa delas fala de uma das muitas viagens com Toquinho, quando o ouviu confessar um desejo e, por julgá-lo tão humano e emocionante, compôs um poema que o próprio Toquinho musicou:
"É comum a gente sonhar / Quando vem o entardecer / Pois eu também dei de sonhar/ Um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço e nele eu me debruçar / Com um pranto a me correr / E assim chorando acalentar / O filho que eu quero ter.
Dorme meu pequenininho / Dorme que a noite já vem / Teu pai está muito sozinho / De tanto amor que ele tem.
De repente eu o vejo se transformar / No menino igual a mim / Que vem correndo me beijar/ Quando eu chegar lá de onde eu vim
Um menino sempre a perguntar / Um por quê que não tem fim / Um filho a quem só queira bem / E a quem só diga que sim."
Toquinho queria ter um filho. Vinícius já tinha muitos, mas com a ternura que o olhava naquele momento, com certeza gostaria que o novo "parceirinho" fosse um deles.
Não preciso dizer que dei um jeito de ficar também na 2a. sessão. Aliás, se alguém procurar com cuidado é até possível que me ache ainda lá..."
Leo(Nilsson)