A Viagem

Eram seis horas e trinta e cinco minutos de uma quente quarta-feira quando cheguei à Estação de Transbordo Mussurunga. A fila que eu teria que enfrentar fazia uma volta olímpica e quase se enroscava com a de outra linha. Coloquei-me no final dela.

O meu sentido olfativo começou a captar um odor insano, que emanava do banheiro masculino, que não era nada agradável. Ansiei pela chegada rápida do ônibus, para poder afastar-me o mais rápido possível daquele ambiente hostil e nada gratificante. Parece que atendendo ao meu impactante apelo, o ônibus se faz presente. Um cidadão que também aguardava a sua vez de embarcar grita para outra pessoa, que era melhor viajar a pé do que ficar à espera de outro que poderia demorar mais para chegar.

Completo a minha volta olímpica e embarco. O veículo já estava com a sua carga quase máxima e sem opção, sou obrigado a viajar próximo à porta. Às sete horas e vinte e três minutos ele zarpa. Para matar o tempo, procuro encontrar um jeito maneiro, que me leve a ler o meu A TARDE. Após efetuar alguns contorcionismos com os membros superiores consigo iniciar a minha leitura.

Na altura do Molhado e Selvagem ou, como é conhecido pela galera festeira de nossa cidade, Wet’n Wild, começa a nossa “penitência”. O piloto busca desviar pela via marginal que passa em frente àquele, porém, não atenua e nem nos livra do indesejado engarrafamento.

Após quase trinta minutos de viagem conseguimos alcançar o Centro Administrativo, local onde a autoridade mor desembarca de helicóptero e não sabe o que é ficar encaixotado dentro de um “buzu” lotado, sob o causticante sol que nos brinda com seus calientes raios sem nenhum complexo de culpa.

Alternando a leitura do jornal com a visualização do espaço que separam as vias, vejo com uma ponta de ciúme as pessoas que fazem a caminhada matinal. Esqueço por um momento a leitura e começo a observar dois corredores, que destoando das pessoas que caminham, seguem em ritmo mais forte e em alguns momentos chegam a estar em nossas frentes.

Tudo isso me faz lembrar o tempo em que eu também dava minhas passadas naquele espaço. Próximo à entrada da Av. Luís Eduardo, deixamos os dois para trás. Volto os meus sentidos para o jornal e tento esquecer o calor abrasador.

Depois de uma hora e vinte minutos de viagem o ônibus para no local em que devo desembarcar: Pituba. E com esse tempo, em que poderia ter chegado a outro município, próximo da minha cidade que completa quatrocentos e sessenta e quatro anos, a minha viagem termina.

Jaycon
Enviado por Jaycon em 28/03/2013
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