Pilatos e Paulo Coelho
Consummatum est
Jesus Cristo
Sexta-feira da Paixão.
Nunca perdoei Pilatos. Nem nos meus tempos de seminário. Sempre achei que ele fora um covarde. Mesmo reconhecendo e declarando que Jesus de Nazaré não tinha culpa no Cartório; que Jesus era inocente, não teve coragem de evitar a crucificação do Rabino.
"Quanto a mim, eu não acho nenhum motivo de acusação contra Ele", foi, segundo o Evangelista João (18,38), o que disse o Pôncio perante a multidão ensandecida, pedindo, aos gritos, a morte do Mestre.
Não lhe doeu - e se lhe doeu ninguém até hoje soube - trocar Jesus pelo bandido Barrabás. Judas traiu, mas, arrependido, no mínimo envergonhado, se enforcou.
Essa de que "tudo estava escrito"; de que tudo deveria inapelavelmente acontecer, que me perdoem os bons católicos, eu nunca engoli.
Como, aliás, pedindo novamente perdão, nunca consegui engolir outras passagens do chamado Drama do Calvário.
Mas garante a santa Bíblia, que tudo foi verdade; ou é verdade. Certo é que, há mais de dois milanos se conta a mesma história.
E não seria eu, um mísero peregrino, atravessando com muita dificuldade este "vale de lágrimas", que irá tentar desmenti-la ou modificá-la.
Tenho, porém, o inalienável direito de fazer meus reparos sobre este respeitável assunto, ainda que correndo o sério risco de ser chamado de herege; leviano; zombador dos mistérios da Igreja de Cristo, e sobre os quais ela se sustenta e se alimenta há milênios.
*** ***
Nunca, em momento algum, considerei-me um agnóstico e muito menos um ateu. Tanto que assisto, como o maior respeito, as celebrações da Semana Santa, da Quarta-feira de Trevas (?) ao Domingo da Ressurreição.
Amanhã, antes da hora em que se garante que Jesus morreu, três da tarde, darei uma passadinha na igreja do meu bairro. E diante de um crucifixo, repetirei este texto do Paulo Coelho:
"Os dois deuses
Existem dois deuses. O Deus que nossos professores nos ensinaram e o Deus que nos ensina. - O Deus sobre o qual as pessoas costumam conversar e o Deus que conversa conosco. - O Deus que aprendemos temer e o Deus que nos fala de misericórdia. - O Deus que está nas alturas e o Deus que participa de nossa vida diária. - O Deus que nos cobra e o Deus que perdoa as nossas dívidas. - O Deus que nos ameaça com os castigos do inferno e o Deus que nos mostra o melhor caminho. - Existem dois Deuses. - Um Deus que nos afasta por nossas culpas e um Deus que nos chama com Seu amor."
E darei como cumpridas as minhas "obrigações" inerentes à Semana Santa. Agora e continuar insistindo em acreditar no Resuscitado - Resurexit sicuti dixt, Alleluia!
Nota - Belíssimo quadro de Caravaggio (1571-1610) - Ecce Homo!
Consummatum est
Jesus Cristo
Sexta-feira da Paixão.
Nunca perdoei Pilatos. Nem nos meus tempos de seminário. Sempre achei que ele fora um covarde. Mesmo reconhecendo e declarando que Jesus de Nazaré não tinha culpa no Cartório; que Jesus era inocente, não teve coragem de evitar a crucificação do Rabino.
"Quanto a mim, eu não acho nenhum motivo de acusação contra Ele", foi, segundo o Evangelista João (18,38), o que disse o Pôncio perante a multidão ensandecida, pedindo, aos gritos, a morte do Mestre.
Não lhe doeu - e se lhe doeu ninguém até hoje soube - trocar Jesus pelo bandido Barrabás. Judas traiu, mas, arrependido, no mínimo envergonhado, se enforcou.
Essa de que "tudo estava escrito"; de que tudo deveria inapelavelmente acontecer, que me perdoem os bons católicos, eu nunca engoli.
Como, aliás, pedindo novamente perdão, nunca consegui engolir outras passagens do chamado Drama do Calvário.
Mas garante a santa Bíblia, que tudo foi verdade; ou é verdade. Certo é que, há mais de dois milanos se conta a mesma história.
E não seria eu, um mísero peregrino, atravessando com muita dificuldade este "vale de lágrimas", que irá tentar desmenti-la ou modificá-la.
Tenho, porém, o inalienável direito de fazer meus reparos sobre este respeitável assunto, ainda que correndo o sério risco de ser chamado de herege; leviano; zombador dos mistérios da Igreja de Cristo, e sobre os quais ela se sustenta e se alimenta há milênios.
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Nunca, em momento algum, considerei-me um agnóstico e muito menos um ateu. Tanto que assisto, como o maior respeito, as celebrações da Semana Santa, da Quarta-feira de Trevas (?) ao Domingo da Ressurreição.
Amanhã, antes da hora em que se garante que Jesus morreu, três da tarde, darei uma passadinha na igreja do meu bairro. E diante de um crucifixo, repetirei este texto do Paulo Coelho:
"Os dois deuses
Existem dois deuses. O Deus que nossos professores nos ensinaram e o Deus que nos ensina. - O Deus sobre o qual as pessoas costumam conversar e o Deus que conversa conosco. - O Deus que aprendemos temer e o Deus que nos fala de misericórdia. - O Deus que está nas alturas e o Deus que participa de nossa vida diária. - O Deus que nos cobra e o Deus que perdoa as nossas dívidas. - O Deus que nos ameaça com os castigos do inferno e o Deus que nos mostra o melhor caminho. - Existem dois Deuses. - Um Deus que nos afasta por nossas culpas e um Deus que nos chama com Seu amor."
E darei como cumpridas as minhas "obrigações" inerentes à Semana Santa. Agora e continuar insistindo em acreditar no Resuscitado - Resurexit sicuti dixt, Alleluia!
Nota - Belíssimo quadro de Caravaggio (1571-1610) - Ecce Homo!