TEMPO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Ampulheta é um aparelho de vidro constituído por dois vasos cônicos, ambos na posição vertical, estando o vaso superior como que emborcado no vaso inferior. O de cima se comunica com o de baixo por um orifício, por onde desce, sempre no mesmo ritmo, certa quantidade de areia muito fininha. Um cronômetro clássico. Uma espécie de relógio. A ampulheta é usada para medir, minuto a minuto, o tempo que passa e, em relação a nós, a vida que passa. E como passa! E sem regresso... Mas, a ver o cair da areia, leve, porém agoureiro e inexorável, prefiro ouvir o tique-taque cadenciado do relógio.
A humanidade tem a mania de dividir o tempo em fatias. E boa parte dessa humanidade, hoje em dia, devora essas fatias sofregamente. Fatia de vida.
Em linguagem teatral se diz, em francês, “tranche de vie”. Uma obsessão. Tempo é dinheiro. E eu que nunca tenho tempo... Superar a própria marca ou ir um segundo além, numa competição, é a razão de ser de muitos atletas do esporte ou de competidores do ir mais longe, sempre mais longe, nem sempre importando os meios. Não se tem tempo a perder. Mas para ganhar o quê? Dinheiro, fama, prestígio, poder, mando político, vida nababesca?
Na comparação de Machado de Assis, o tempo é um químico invisível que dissolve, compõe, extrai e transforma todas as substâncias. E o tempo não para. Mas às vezes também não passa. Quando se está num hospital, numa penitenciária, num cativeiro, desabrigado, deprimido, sem condições básicas de higiene. Ou quando se é vítima de poluição, visual ou sonora. Ou quando somos escravos do relógio. O próprio tempo é o relógio da vida. E a vida está é dentro de nós. Na direção do nosso estado de espírito. Como na música. Andamento mais ou menos repousante, lento, longo, agitado, acelerado, resoluto, galopante. O tempo, em si, é monocórdio. Com relação a nós é que é rítmico, e em ritmos variados. Nem sempre no vai da valsa... Mas vivendo e aprendendo, vivendo e colhendo.