Depois de 40 minutos de viagem ela entendeu.

O ônibus estava cheio para variar, aqueles quarenta minutos de viagem seriam uma eternidade, além é claro de ser extremamente cansativo.

Estava muito feminina naquele dia, no pulso e no pescoço correntinhas, discretas e douradas, na mão esquerda, um anel, dourado também, calça e blusinha que ao mesmo tempo em que vestiam bem seu corpo, destacavam suas qualidades.

Estava solteira e teve uma ideia tentadora: provocar.

Trocou seu anel do dedo médio da mão esquerda para seu dedo anular.

Agora estava casada!

Começou a se mostrar, a cada minuto colocava a mão em algum lugar, sempre ostentando o anel, que agora na sua cabeça era uma aliança de casamento, o compromisso máximo entre um homem e uma mulher.

Foi quando percebeu o primeiro olhar.

Ficou agitada, seu coração disparou aquela tese de que todo mundo que é comprometido é mais interessante seria verdade? Sentiu-se importante.

Meio que discreta, correspondeu ao olhar, daquela maneira típica de quem está com vergonha, bem discreta, meio sorriso.

Do outro lado já reparava em outra investida, logo atrás dela um homem esbarrou, meio que sem querer, pediu desculpas fixando o olhar.

Homens, mulheres. Ela estava tão destacada naquela multidão que sentia vontade de pular pela janela, não sabia se ficava feliz ou com medo. Medo de ser arrastada, de ser devorada, medo que seu marido descobrisse tudo aquilo.

Mas afinal de contas, que marido?

Ora, ela apenas tinha trocado o anel de dedo.

Tudo estava muito delirante para ela, sufocante, há alguns minutos estava com os olhos fechados, apenas imaginando como era bom estar no centro das atenções.

Foi então que, sem mais nem menos, chegou a sua parada. Pediu licença e desceu.

Na calçada trocou seu anel de dedos novamente, voltou ao dedo certo.

Agora estava intrigada, apesar de ter sido vista e cobiçada, de ter ficado com medo de ser arrastada e devorada, ninguém teve atitude alguma, ninguém se prestou a chegar e conversar, puxar um papo, não ocorreu nada.

Então ela entendeu.

Naquele ônibus, todos respeitavam mulheres casadas, mesmo aquelas casadas apenas por quarenta minutos.

Leonardo Laprano
Enviado por Leonardo Laprano em 28/03/2013
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