Juvenal Juvêncio: Entre a besta e o bestial
Juvenal: Besta ou Bestial?
Jorge Linhaça
Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo Futebol Clube, como todos os grandes líderes causa impressões diversas nas pessoas.
Só para esclarecer, em plagas lusitanas o adjetivo Bestial é o equivalente a Genial em terras tupiniquins. Já o besta, não precisa de explicações, significa o mesmo, tanto lá quanto cá.
Juvenal pode ser causado de tudo, menos de ser uma besta no que diz respeito ao futebol.
Mesmo sua teimosia em permanecer à frente do tricolor paulista por três mandatos, causando alarde por conta de interpretações distintas sobre o estatuto do clube, denota o amor que ele nutre pela agremiação e seu desejo de alcançar metas estabelecidas por ele mesmo como uma espécie de legado.
O CT de Cotia ( menina dos olhos do dirigente) não basta para Juvenal Juvêncio, ele quer deixar o Morumbi modernizado e digno da grandeza do clube. Há quem não veja isso com bons olhos e preferisse investir em contratações bombásticas, na montagem de um time milionário, como tem feito alguns outros clubes pelo Brasil afora.
Ao fim ao cabo, jogadores acabam por morrer, décadas depois, sem receber os tais salários prometidos.
Juvenal é mais pragmático, acredita em projetos de gestão a médio e a longo prazo; em revelar jogadores da base e manter o fluxo de caixa.
Recentemente comprou uma briga enorme com o Ricardo Teixeira e seus escudeiros , o Morumbi deixou de ser o estádio da Copa na capital paulista, o que, ao meu ver, não foi uma perda mas sim um ganho, afinal integridade não tem preço e o SPFC não haveria de se curvar aos desmandos da CBF e da FIFA e tornar-se partícipe do assalto descarado aos cofres públicos.
O dinheiro da venda de Lucas Maior negociação de um jogador para o exterior até hoje, ao contrário do que pretendia uma parte da torcida, foi direcionado, em boa parte, para o pagamento antecipado de empréstimos contraídos pelo clube ao longo dos anos, o que per si gerou uma economia de milhões de reais em juros.
Isso se chama administrar as finanças de um clube com responsabilidade ao invés de afundar-se em dívidas a médio ou a longo prazo. Receitas futuras são exatamente isso, receitas futuras que, por algum imprevisto, podem não se concretizar.
A modernização do Morumbi vai muito além da simples cobertura do estádio, passa pela criação de um espaço reservado para Shows internacionais sem que seja necessário agredir o gramado.
Juvenal segue a tradição dos grandes presidentes tricolores e não rende-se a imediatismos ou à pressão da torcida e da imprensa, erra e acerta como qualquer um, mas sem loucuras financeiras.
Juvêncio é uma figura por vezes folclórica, com suas declarações debochadas e de um humor um tanto quanto ácido, mas isso faz parte do jogo, enquanto outros estrebucham, Juvenal tem sempre uma tirada inteligente.
Na hora de falar sério, sai de baixo, Juvenal dá aula sobre futebol. Poucos são capazes de falar com tanta propriedade sobre o assunto, sem perder a linha.
Ao fim do mandato de Juvenal à frente da presidência do clube, espero sinceramente que ele já tenha treinado um sucessor tão capaz quanto ele. No São Paulo Futebol Clube, existe um diferencial, existe a oposição mas não existe a torcida para que a gestão não dê certo, derrotados e vencedores unem-se pelo bem maior do clube. Adversários sim, inimigos jamais.
E pouco importa quantas crises se queiram plantar no Morumbi, lá essas sementes não encontram solo fértil para desenvolverem-se e causar grandes estragos.
Enquanto os cães ladram a carruagem tricolor passa e segue sua trajetória de sucesso.
Chega a ser engraçado quando falam que o São Paulo não ganha um título de expressão há mais de dois ou três anos. Enquanto isso outros clubes enfrentam enormes filas e estiagem de títulos sem que se fale nada a respeito.
Mas esse é o preço de ser campeão com tanta frequência, as pessoas se acostumam a ver as taças sendo erguidas e estranham quando passamos um pequeno período sem gritar “É campeão. “
Mas até nós precisamos de descanso e tempo para ampliar a sala de troféus importantes.
Salvador, 25 de março de 2013.