FELIZ PÁSCOA
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Pierre Corneille escreveu: “Essa escura claridade que cai das estrelas”. Como? Claridade escura? Chamamos de bom ladrão a um dos dois criminosos que foram crucificados ao lado de Jesus. Consta, de fato, que ele se arrependera na última hora. Daí a estranha associação “bom ladrão”. Também estranha combinação nos aponta Cícero, no Tratado da Amizade: “Apesar de sua ausência, eles estão presentes; apesar de sua pobreza, eles estão na abundância; apesar de sua fraqueza, têm vigor; e o que é mais difícil dizer, após a morte eles vivem ainda, tanto é vivo o respeito e a lembrança de seus amigos”. Essas figuras de linguagem, aparentemente contraditórias, na verdade ilustram curiosos paradoxos.
Curioso também como algumas expressões se desgastam com o tempo. Por exemplo, Semana Santa. Faz de conta que é santa, todavia mais parece uma semana simplesmente de folga. E, outro paradoxo: mesmo quem fala mal de religião ou lhe é indiferente não reclama dos feriados religiosos. Pelo contrário. Na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da Paixão, deixa-se de comer carne e se aprecia deliciosa bacalhoada. O profano invade o templo, apropria-se do sagrado, laiciza-o e faz a festa. O mercado de peixes e de ovos de chocolate deita e rola. Assim, cria-se e se alimenta uma cultura distorcida, aceita sem restrições, e até com entusiasmo e vibração. E, para completar o quadro, muitas pessoas morrem, nesses feriados prolongados, por irresponsabilidade de motoristas imperitos, apressados ou alcoolizados, ou ainda pela precariedade das rodovias, apesar dos impostos e pedágios, e pela situação de veículos sem manutenção.
Será que tudo tem que continuar na mesma, sem utopia, sem travessia, sem mudança, sem Páscoa? Desejo-lhe, então, com inicial maiúscula: feliz Páscoa! Vale pelo menos o desejo de mudança, de passagem, de Pessach. Num passar de alienação para engajamento, de corrupção para indenização, de holocausto para reparação...