ESCREVER É TERAPIA.

Quem escreve para celebrizar-se não é escritor, é mercador e nunca conseguirá reconhecimento, tem na moeda e na fama objetivos menores, que barram a pretensão. O parto da alma não nasce do esforço para elaborar o sentido da escrita, mas do sentimento. Não tem berço em necessidades materiais que diminuem a história dos que foram recepcionados pelo mérito. Escrever não é só se comunicar, mudos e surdos se comunicam, o ato da comunicação é passível de vários instrumentos, basta observar. Quem busca com esforço se externar e compreende como difícil o ato de escrever, segue o caminho errado, por isso tropeça, burila a forma por falta de sentimento, só quem ama verdadeiramente o que faz, e o faz por dotação de chegada nesse mundo, pode tocar a realização pessoal, e isso não o torna vaidoso. Sua personalidade é maior que a rasteira soberba. Khali Gibran ficou conhecido cem anos após sua morte, nunca pretendeu fama, mas descerrar seus sentimentos, era o grito de seu ser que se expandia imperativamente. Escrever define emoção, que pulsa, vibra, contamina o entorno da leitura, não se escora nas geleiras do pensamento perpetrado adredemente, tem fluência natural, jorra como fonte limpa e clara. A criação se manifesta por necessidade nunca por estratégias de construção, não é uma exatidão nascida da vontade, é a vontade imperativa que se desenvolve sem freios, alimentada pela necessidade do interior. Escrever em geral, em suas várias modalidades, mesmo nos romances, situará sem indefinições ou pesadas tintas, péssimas de absorção, as figuras dos personagens, as emoções latentes do escritor que estavam aprisionadas e necessitavam surgir. É terapia por não poder ficar represada, explode como uma tsunami que vai fazendo seus caminhos, cavando nos corações a afeição e o encanto. É o caminho dos sentimentos que querem se expandir e cantar sem possibilidades de serem manietados em prisões de aperfeiçoamentos construtivos, medidos, estudados, arquitetados e por isso descoloridos, sem sabor, beirando a apatia e distanciando-se dos sonhos de quem se expressa sem fazer força e debulha o espírito inquieto e sôfrego, sem amarras de equações elaborativas onde se ausenta o dom. Escrever é terapia, o mundo do espírito, quem o tem fraco e não ama, nunca será escritor.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/03/2013
Reeditado em 27/03/2013
Código do texto: T4209981
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