Ser mãe é...

Um dia me peguei pensando em ser mãe. De novo.

Não agora, não esse ano. Mas a vontade veio.

As pessoas me vêem com uma filha “criada”, quase adolescente e me dizem: “Tá maluca? Você já esqueceu de TUDO?”

Não, eu não esqueci. O duro de tomar a decisão de novo, 08 anos depois, é justamente não ter esquecido. Nada.

Porque ser mãe é uma merda.

É maravilhoso, mas é uma merda. Uma dualidade de sentimentos de alucinar. Como fazer uma tatuagem – que dói, mas vale a pena no final. E me desculpe a metáfora da maternidade com a tatuagem. Eu queria ser sensível e profunda, mas não sou.

O difícil de se falar nas dificuldades de ser mãe é que existe um “código”. Um código secreto materno. Um código do silêncio.

Esse código autoritarista nos proíbe de achar ruim, de achar feio, de não gostar, de se frustrar, de reclamar e de sofrer. Esse código nos impede de ser honestas boa parte do tempo. E quem impõe o código somos nós mesmas, nossa consciência. E quer bicho mais implacável do que uma consciência? Pois é.

Eu tomei um susto quando virei mãe.

Eu simplesmente achava que tudo seria bacana e fofo. E meigo. E temperado com talquinho de bebê.

Não vou falar sobre o trabalho que um bebê dá – alguns dão mais, alguns dão menos. É esperado.

O que não é esperado é você ter sim vontade de fugir. Vontade de desistir. O que não é esperado é todo mundo estar num enlevo com a criança, e você às vezes se pegar ressentida. E chorar escondido. E achar que é a pior mãe do mundo. E depois se sentir culpada e com remorso de tudo.

Mas ninguém fala disso. Eu vejo um bando de mães, reais e virtuais, se vangloriando da maravilha de ser mãe. Que nasceram pra isso. Da felicidade que é.

Tá bom, a felicidade é real. Ela existe mesmo, claro. Mas fico sempre pensando “será que essas pessoas não se cansam? Será que não se esgotam, emocionalmente?” No Facebook… só um bando de mães felizes e plenas. Eu sempre acho estranho.

Porque ninguém te conta certas coisas. Não mesmo.

Ninguém te conta que logo que o bebê nasce você fica um século sem sexo (e não, mãe não é um ser assexuado!). Que você se sente feia, e inchada e a última das mulheres da Terra. Ninguém te conta que seus hormônios vão ficar doidos. E que depressão pós-parto é bem mais comum do que se pensa. Eu bem sei. E você não é um monstro se olhar pro bebê e não sentir exatamente o que acha que deveria sentir, imediatamente.

Não te contam que no primeiro (ou primeiros!) ano da criança, você vai estar tão envolvida com o serzinho que não vai conseguir se cuidar como antes. E que isso vai afetar sua auto-estima. Mesmo que você tenha o marido mais carinhoso e sensível do mundo.

Então você vai passar muito tempo oscilando entre estar feliz por ser mãe, e estar frustrada como mulher. E exausta. Uma exaustão física e mental que homem algum um dia vai entender.

Depois, não te contam que seu lindo bebezinho, sua bonequinha, não vai ser o que VOCÊ QUER, e sim o QUE ELE É. Como ser humano individual. E isso implica em malcriações, choques de temperamento e alguma decepção (eu decepciono minha mãe dia sim, dia não, até hoje). Não vão falar abertamente que você pode achar seu filho chato, ou não se dar com a personalidade dele (isso é tabu!). E por todas as fases e idades essas coisas vão se repetir. Tudo mesclado a amor incondicional e orgulho, ao mesmo tempo. Ser mãe é sempre um conflito agri-doce. Como não enlouquecer?

Fora as coisas práticas, que fazem o “romance materno” cair por terra. E que todos fingem que não existe. Ou que a sua princesa, linda, arrumadinha, penteada e cheirosa vai pegar… piolhos! E pior, que você vai pegar dela. Ou que você vai ter terminado de dar banho e deixado sua princesa toda engomadinha pra uma festa, e chegando nela ela vai fazer um cocô que vai sair da fralda, subir até o cabelo, e você vai se pegar dando banho nela numa pia do banheiro, e deixando ela vestida como um mendigo a festinha toda. E que vão te olhar e te julgar por isso.

Ah, essa é outra coisa. O julgamento.

Ninguém te avisa que você vai ser a pior mãe do mundo.

Sim, porque todo mundo vai saber como criar seu filho melhor do que você. Vão te julgar se você não o repreender. E vão te julgar se você lhe der umas palmadas. Todo mundo é PHD em criar filhos – mesmo aqueles que não os tem, ou que criaram uns monstrinhos!

Te julgam até se você não quer ser mãe. Como se você não tivesse esse direito! Te julgam fria, menos mulher. Ora, ora. Ser mãe não é para todas (e não digo isso como quem diz que ser mãe é melhor, ou alguma vantagem). Aliás, ser mãe não é para muitas – mas poucas são as que admitem racionalmente isso. É pecado? Preferir ser tia? Ou escolher outras coisas, como seu parceiro, sua profissão, ou você mesma? Não, é justo e honesto. Quem dera algumas mães sem vocação que conheço tivessem sido honestas consigo mesmas sobre sua falta de vontade, ao invés de deixar a sociedade decidir o que era certo pra elas…

E ainda assim, sabendo disso tudo, como pensar em ser mãe? Como se lançar?

Essa é a parte difícil de explicar. Ou talvez não seja – porque, contrariando toda a lógica, ser mãe é incrível.

Eu não me vejo sem essa “parte” da minha vida. Mas dessa parte boa eu não preciso falar.

Evie, te dedico!

27/03/13

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Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 27/03/2013
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