Avião
Avião
Julho, malas prontas: despedidas, lágrimas, sorrisos...
Ela parte de ônibus até São Paulo
Primeira viagem de avião, com destino a Recife...
Com escala no Rio de Janeiro
Entra no avião, senta com sua irmã e pede...
Para abrir a janelinha e a irmã responde
Num fio de voz: A janelinha não abre
E ela desesperada grita:... Pare o avião
Que eu quero descer... Chora
A claustrofobia está apertando o seu pescoço
Chegam ao Rio de Janeiro
Ela diz: Não conseguirei continuar!...
Você segue viagem e eu volto...
Ela embarca no Boeing da Varig
E começa a passar mal, pressão cai...
Quase desfalece... Chora queria estar no chão...
Aeromoças e comissários de bordo
Fazendo de tudo para alegrá-la
Quatro crianças tentando conversar com ela
Um lindo jovem sentado ao seu lado
Falando de todos os assuntos para ela se desligar
E nada! Pressão caindo, quase desfalecendo.
Um jovem Senhor dá umas passadas de dança no corredor
E dá-lhe café, chá, água e nada!
E ela começa a deixar as outras pessoas em pânico
Aeromoças, Comissários de bordo segurando a sua mão...
Médico tira a sua pressão: sete por seis...
E a claustrofobia a derrubando
Coitada da irmã tão quietinha e serena
Que mico!... Por essa ela não esperava, reza!...
Todos rezam!... Depois todos cantam!
E o cansaço estava estampado no rosto de todos
Já não existe mais vôo econômico, primeira classe...
É tudo uma coisa só, ela tinha que sobreviver...
Segunda escala: Salvador...
O Comandante manda levá-la para a cabine
Faz a apresentação e avisa que o resto da viagem
Irá ao lugar do co-piloto
Comandante na frente dela e o piloto
Ela amarrada atrás com cintos no lugar do co-piloto
Eles abrem um pequeno orifício em cima da sua cabeça
Para que entre ar natural devido à claustrofobia
Piloto fala: Pode gritar a vontade só vamos falar
Com você a dez mil pés de altitude, tenha fé...
E aquela palavra mágica soou gostoso ao seu ouvido
Fé... Pra quem está quase morrendo é uma boa...
E o avião saiu a toda velocidade e decolou, ela gritou!...
Socorro!... Nós vamos cair! Ah! Meu Deus...
E um vento gélido na sua cabeça e seus longos cabelos
Subindo, subindo até ficar retinho em direção ao orifício...
Chegou a dez mil pés de altitude
Desligaram o manual e ligaram o automático
E olharam para ela e deram muita risada
Fecharam o orifício e o seu cabelo crespo desceu liso
Não precisou nem de chapinha...
Você entendeu porque não pode abrir janelinha do avião!...
Depois a desamarraram e o comandante falou:
Moça pra que tanto medo! Tenha mais fé...
Você está com crucifixo na sua corrente
Se acontecer alguma coisa com o avião
Quando acordar já estará nos braços de Jesus...
Aprenda a curtir a sua viajem,
Olha lá fora e vê o céu salpicado de estrelas
Elas estão maiores e essas nuvens abaixo de nós
Parecem bolas de algodão...
Quando se está aqui no alto tão pertinho do céu...
Percebe-se que és pequeno e Deus é tão grande...
E ela acordou e começou a curtir tudo aquilo
E o comandante continuou a falar:
Agora faz de conta que é co-piloto
E vamos aprender um pouco como se pilota
E lhe mostrou tudo e foi explicando cada detalhe da cabine
Ela estava feliz!... Maravilhada com tudo... Todos aqueles botões,
Lusinhas acendendo e apagando, eles dando as coordenadas...
Parecia que havia um monte de anjos segurando a sua mão...
O piloto amarrou-a na cadeira outra vez
E avisou que iriam começar a descer
Amarrada, coração em disparada, suando frio...
Mas foi quietinha, curtindo cada segundo daquele sonho...
O avião descendo, lá embaixo o mar com suas ondas...
O luar iluminando os recifes e deixando as espumas prateadas
Espetáculo da natureza e ela sentiu de perto a presença de Deus
E o avião começou se preparar para a aterrizar e ela a gritar:
Cuidado!...Vai bater... Meu Deus!...
O Comandante, Piloto e Co piloto desceram com ela...
E o Comandante lhe disse: Moça nesses dias que vai ficar aqui...
Prepara-se espiritualmente, pois na volta será outro Comandante...
E talvez ele não abra exceção para você ir à cabine
Despediu-se dela e foi embora...
Ela ficou a olhar aqueles três anjos que a salvaram...
Passaram-se vinte dias de férias naquele lugar maravilhoso...
Hora de voltar... Aeroporto... Abraços, despedida...
Pessoas diferentes, lugar diferente... Aperto na garganta...
Olha para sua irmã e fica com dó, tenta resistir...
E o Boeing decola para São Paulo, sem escala...
O lugar dela é bem em cima da asa doa avião
Começa a passar mal, sua irmã caiu no sono,
Escuta um barulho, olha para a minúscula Janelinha,
Tempestade, raios, o avião trepidando...
Ela chorando, a irmã dormindo...
Não conseguia respirar direito e então lembrou dos anjos
E pôs-se a rezar... Nisso a aeromoça trouxe uma humorista famosa
E colocou-a sentada do lado dela...
E até São Paulo no meio de toda aquela tempestade...
A irmã dormindo, ela conseguiu dar umas boas gargalhadas...
Desceu do avião e acenou para a humorista e pensou:
Mais um anjo que veio comigo...
Obrigado Deus!... Mas ninguém mais me pega para andar de avião...
Juro!...
Ob. - As autoridades competentes têm que pensar que claustrofobia é uma doença e toda a pessoa que sofre disso não deve ser discriminado e nem passada para trás.
Estudar um meio de essas pessoas serem incluídas na sociedade, gozar dos mesmos direitos dos outros e facilitar o bem estar delas.
Como por exemplo: prédios com elevadores panorâmicos, teatros, salas com janelas e bem ventiladas, ônibus com janelas opcionais que possam abrir e shopping com muitas portas...
Do meu livro: O Milagre da Vida