A cidade grande
O Duda estava assustado. Pensando bem, não sei se essa ideia de vir para São Paulo, a cidade grande, era mesmo uma boa ideia. Ele tinha terminado o segundo grau e o pai falou o que tinha de falar. Ou faz faculdade ou vai trabalhar. Coisa de estudar não era com ele não. Veio capengando desde o primeiro ano primário, aquilo era uma tortura só. Qualquer outra coisa estava bem. Negociar, trabalhar duro, organizar...Mas ficar ali, enfiado em livros, aquilo era um suplício.
Deu uma de macho e disse que era capaz de se virar sozinho, trabalhar e montar negócio, crescer e ganhar mais do que qualquer doutor. Não tinha medo de enfrentar a vida. E a cidadezinha onde viviam era muito pequena para tudo o que ele queria fazer. São Paulo, sim. Isso era coisa de homem de negócios, coisa de gente grande. O pai ainda tentou, pelo menos, arrumar uns contatos em São Paulo, lugar para ficar, pelo menos até ele se estabilizar. O Duda, entretanto, falou que não era preciso, sabia se virar.
Desceu na rodoviária, pegou um táxi e foi para um hotel. Só depois ficou sabendo, estava bem no meio da “boca”. Foi uma noite de cão. Não conseguiu dormir. Não pensem que o Duda fosse cheio de histórias. Não. Estava acostumado a um monte de coisas difíceis, dureza. Já dormira no mato inúmeras vezes, caçando ou acampando. O negócio ali era diferente, Não era só a feiúra, o jeito das coisas. Ali tinha coisa ruim, era coisa de espírito. Ele sabia, podia sentir.
No dia seguinte saiu de manhã, começou a andar pelas ruas, procurar. Tentou pedir emprego em dois ou três lugares, sem sucesso. As coisas que ele sabia fazer não eram as coisas que as firmas queriam que ele fizesse. Bateu uma depressão no coitado, uma coisa que ele nunca tinha sentido antes. Além disso bateu uma solidão em seu peito, algo que ele nem suspeitava que pudesse existir. De repente deu uma saudade de todo mundo lá do interior, até de quem ele não gostava.
Aguentou mais dois dias, mas foi só para disfarçar. Por ele teria voltado no minuto em que chegou. Precisava de uma desculpa, agora ele tinha. Não havia emprego, a coisa estava difícil. Quando chegou de volta, ninguém ousou comentar nada. Todo mundo apoiou, todo mundo ficou feliz.
O Duda viu a cidade pelo ângulo errado. Tinha tanta coisa bonita para ele ver, tanto emprego que ele podia ter, tanta gente bacana para ele conhecer. Ficou assustado antes da hora. Até lá na zona, se ele olhasse com cuidado, com bastante jeito, ele podia ver alguma coisa boa, alguma perspectiva interessante, sempre existe alguma coisa...
Eu contei essa história só para dizer que isso às vezes acontece na vida. Há gente que passa a vida inteira sem conseguir ver o lado certo, a parte cheia de luz. Há gente que não consegue ouvir a música que está escondida nos ruídos, o sussurro suave que há no meio dos gritos, o poema que está escrito em códigos, por trás da notícia sangrenta do jornal. E, daí, ficam sempre rodando, rodando...
O Duda estava assustado. Pensando bem, não sei se essa ideia de vir para São Paulo, a cidade grande, era mesmo uma boa ideia. Ele tinha terminado o segundo grau e o pai falou o que tinha de falar. Ou faz faculdade ou vai trabalhar. Coisa de estudar não era com ele não. Veio capengando desde o primeiro ano primário, aquilo era uma tortura só. Qualquer outra coisa estava bem. Negociar, trabalhar duro, organizar...Mas ficar ali, enfiado em livros, aquilo era um suplício.
Deu uma de macho e disse que era capaz de se virar sozinho, trabalhar e montar negócio, crescer e ganhar mais do que qualquer doutor. Não tinha medo de enfrentar a vida. E a cidadezinha onde viviam era muito pequena para tudo o que ele queria fazer. São Paulo, sim. Isso era coisa de homem de negócios, coisa de gente grande. O pai ainda tentou, pelo menos, arrumar uns contatos em São Paulo, lugar para ficar, pelo menos até ele se estabilizar. O Duda, entretanto, falou que não era preciso, sabia se virar.
Desceu na rodoviária, pegou um táxi e foi para um hotel. Só depois ficou sabendo, estava bem no meio da “boca”. Foi uma noite de cão. Não conseguiu dormir. Não pensem que o Duda fosse cheio de histórias. Não. Estava acostumado a um monte de coisas difíceis, dureza. Já dormira no mato inúmeras vezes, caçando ou acampando. O negócio ali era diferente, Não era só a feiúra, o jeito das coisas. Ali tinha coisa ruim, era coisa de espírito. Ele sabia, podia sentir.
No dia seguinte saiu de manhã, começou a andar pelas ruas, procurar. Tentou pedir emprego em dois ou três lugares, sem sucesso. As coisas que ele sabia fazer não eram as coisas que as firmas queriam que ele fizesse. Bateu uma depressão no coitado, uma coisa que ele nunca tinha sentido antes. Além disso bateu uma solidão em seu peito, algo que ele nem suspeitava que pudesse existir. De repente deu uma saudade de todo mundo lá do interior, até de quem ele não gostava.
Aguentou mais dois dias, mas foi só para disfarçar. Por ele teria voltado no minuto em que chegou. Precisava de uma desculpa, agora ele tinha. Não havia emprego, a coisa estava difícil. Quando chegou de volta, ninguém ousou comentar nada. Todo mundo apoiou, todo mundo ficou feliz.
O Duda viu a cidade pelo ângulo errado. Tinha tanta coisa bonita para ele ver, tanto emprego que ele podia ter, tanta gente bacana para ele conhecer. Ficou assustado antes da hora. Até lá na zona, se ele olhasse com cuidado, com bastante jeito, ele podia ver alguma coisa boa, alguma perspectiva interessante, sempre existe alguma coisa...
Eu contei essa história só para dizer que isso às vezes acontece na vida. Há gente que passa a vida inteira sem conseguir ver o lado certo, a parte cheia de luz. Há gente que não consegue ouvir a música que está escondida nos ruídos, o sussurro suave que há no meio dos gritos, o poema que está escrito em códigos, por trás da notícia sangrenta do jornal. E, daí, ficam sempre rodando, rodando...