a confissão das chamas.

Dentro de cada um de nós existe uma história, triste ou alegre. Sabemos que há fatos que guardamos como aquele álbum de fotografias escondidas nos porões, ou nos depósitos da casa onde crescemos. Um dia resolvi fazer uma bela faxina nos meus “ninhos de ratos”, e descobri uma série de sentimentos ancorados em algo que não lembrava mais que existia. Não foram necessariamente as emoções que encontrei que me impressionou, mais sim, o fato de que elas ainda existiam em algum nível. São como brasas de uma chama esquecida que não podem ser remexidas.

Assim são as chamas apagadas dos traumas, dos momentos bons, das passagens de intensa alegria que vivenciamos. Que jazem lá nos cantos escuros e claros de nosso ser. Lembrei-me de quão difícil é confessar o que sentimos a nós mesmos. Então leio uma bela carta de confissão, Que não foi feita para si mesmo, mais para uma pessoa amada. Nela um amante dizia, ao reencontrar-se com seus sentimentos esquecidos:

“Sim, eu te amei”.

O amante começava por confessar que um dia a amou. Nada fora do comum. Quando abrimos a caixa de sentimentos reprimidos não há porque esperar mais um minuto sequer para liberá-los.

Ele dizia amar por um motivo único, disse que ela o fez acreditar que podia ser uma pessoa importante na vida de alguém. O Fez conhecer o significado de alegria e compromisso. Apaixonou-se desde que ela mostrou uma intensa dor por um amigo que se foi dessa vida, enquanto ainda assim, se julgava oca de sentimentos. Ele discordava. O tocante discurso de saudade o fez desejar ser amado por alguém daquela forma; de ser amado por ela. Ele realmente não conheceu a virtude do amor antes dela; e nunca mais após aquilo tudo. Cada gesto dela passou a ditar seu apego pela vida. O que confundia sua inocente e indefesa alma. Inocente não por não conhecer as coisas mundanas, mas por que todos somos como crianças quando nos deparamos com algo desconhecido. Não que não há razão lógica para o surgimento de um sentimento assim tão grande e inexplicável; é que o motivo muitas vezes passa despercebido por uma mente surpreendida e impressionada.

Assim, ele descobriu que se apaixonou por um motivo único, pois amou depois da cena que preencheu a necessidade que trazia consigo. Dentro de cada um, há uma necessidade inorgânica, mais que nos enche de uma sensação que se faz melhor ao espírito, e da um conforto pessoal que algumas vezes chamamos de paz. Isso também é um fato oculto em muitos que não compreendem as leis dos seus próprios sentimentos. Assim o amante se coloca como um vaso vazio a esperar que um bom vinho o preencha. Ora, ele sentiu que ela seria capaz de satisfazer essa sede que adotou bem antes de conhecê-la; quando condicionou sua felicidade na forma de um relacionamento em que seria importante para alguém. Onde teria um compromisso raro.

Mais não foi dessa vez, pois a maré os levou em direções opostas.

Esse sentimento existiu nele até que foi capaz de entender que o tempo passou. Foi aí que percebeu que não podia mais amá-la, pois assim como aquele amigo valoroso, ele também a perdeu. Suas chamas passaram a serem brasas esquecidas.

Percebeu quanta sabedoria pode encontrar nesses momentos tristes?

“Tudo está sujeito à lei da impermanência de todas as coisas. Até mesmo as pessoas que somos nas diferentes fases da vida”.

Assim, ele compreendeu que ela é outra pessoa agora; não é mais aquela que conheceu; não a conhece hoje.

Por isso o que vivi ou deixei de viver, não será recuperado. Mas agora, depois de tanto tempo, vasculhando esse porão escuro, ainda consigo sentir a impressão das autenticas formas que os sentimentos do passado deixaram em mim; meus rios já secaram e apenas estou certo de que um desejo passado se realizou:

“que seja infinito enquanto dure”.

Tesla da escrita
Enviado por Tesla da escrita em 26/03/2013
Reeditado em 26/03/2013
Código do texto: T4208726
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