Os Empréstimos

Lendo um livro, deparei-me com a sigla USAID. Aí lembrei do acordo MEC-USAID, levado a efeito há certo (ou muito) tempo com a finalidade de proporcionar algum tipo de ajuda ao Brasil. Que nada ou muito pouco conseguiu.

Certamente a maioria dos brasileiros não saberia à época o que significava a sigla USAID. US = Estados Unidos. AID = ajuda. Portanto, ajuda americana. MEC era mais fácil: Ministério da Educação e Cultura.

À época desse acordo a inflação era altíssima. Foi debelada ou contida muito depois. Quando perdeu sentido falar-se no acordo MEC-USAID.

Aliás, USAID era uma sigla que fazia tremer ou dava náuseas nos que se julgavam mais antenados na ocasião. Ao invés de ajuda, podia significar roubo ou expropriação.

O que pode ser engraçado nisso é a quase total ignorância da população a respeito de letras ou o seu conjunto – as palavras. Se a pessoa não sabe português, além do registro mais informal, que lhe permite uma comunicação mais direta, o que se dirá do inglês? Apesar da mídia, da parafernália tecnológica, filmes e dos “enlatados” da TV, música, etc. E de todos os empréstimos de vocábulos que somos obrigados a tomar da língua anglo-saxônica.

Como saber que “aid” significava ajuda? O povo poderia concluir depois que essa ajuda nunca existiu. Mas será que concluiu? Certamente sofreu as consequências de um acordo econômico que, para variar, só deve ter beneficiado um dos lados. Até que algumas de nossas lideranças tomaram vergonha na cara e tornaram as coisas melhores pra gente. Não fazendo mais do que a obrigação deles.

No entanto, o que parece inevitável é a presença em nossa língua, e cada vez maior, de vocábulos que não lhe pertencem. É a marca dos vencedores. Não há dúvida de que os Estados Unidos, independente de nossa vontade, vão liderando o mundo. Bélica e economicamente. Contraditoriamente também. Sobretudo depois do lamentável esfacelamento da URSS. Lamentável sob o ponto de vista do equilíbrio, do contraponto, do contraditório (nada em desequilíbrio funciona bem). Embora a Guerra Fria esteja ainda por aí. Ainda que com outra roupagem.

Mas nem é preciso citar os States para a verificação das palavras que usamos sem que nos pertençam de fato. Temos aí o “connoisseur”, o “chauffeur”, o “mis en plis”, etc., vocábulos de origem francesa. Muitos dos quais desusados. Afinal, a França já não é tão vencedora assim.

Só que, fanzoca de Policarpo Quaresma, eu não preciso ficar preocupado. O guarani quase que foi embora, sabemos. Mas o português continua mais firme do que nunca, sua constituição estrutural ou frasal sem sofrer nenhum abalo. Apesar de todos esses nomes que não são nossos, mas que usamos, têm os que inventamos. Tá ligado? E, assim, dificilmente o nosso idioma será ultrapassado.

Já que não temos o guarani por aqui, com os índios quase todos dizimados, fiquemos com o português. Que não perderá sua vez. As palavras estrangeiras podem gravitar livremente na órbita do nosso idioma. Mas quando efetivamente usadas, irão ocupar o lugar que lhes seja reservado. Não vão subverter a ordem estabelecida pela língua. E então poderão ser usadas até que outras surjam, inclusive as que nós inventarmos.

Rio, 17/02/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 26/03/2013
Reeditado em 26/03/2013
Código do texto: T4208481
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.