COMPREENSÃO SEM FRONTEIRAS.

Ganhei de meu pai um chaveiro de ouro com um bilhete que dizia: “Um chaveiro de ouro para guardar as chaves da bondade e da inteligência, traços de sua personalidade de escol”. Fazia vinte e um anos e fiquei surpreso. Primeiro por ser meu pai um homem austero e exigente e me tinha como um grande farrista, entregue ao mundo mundano. Tinha lá suas razões, era jovem e inquieto.Nossa interlocução era pequena, mas nosso amor era imenso. É até hoje e será sempre.

Por azar do destino tive o chaveiro e outros pertences meus, que eram dele e para mim passaram após seu falecimento, alguns anéis de grau e outras relíquias, furtados por uma empregada que sumiu, ficou um relógio de ouro omega que por acaso estava no meu pulso, senão iria também. Nada se recuperou do que foi furtado.

Me marcou muitíssimo esse presente, foi como um troféu, não tenho o chaveiro mas tenho o mais precioso, seu bilhete escrito do próprio punho. Me calou fundo a bondade que via em mim. Como podia ver? Hoje sei que alguma bondade ele via com seus agudos olhos de mais notável criminalista do Estado, um profissional das emoções. Vejo hoje, depois de um temperamento forte que sempre tive, de por qualquer coisa ir à luta corporal, esse lado de bondade, tolerância e compreensão.

Muitos por quase nada repelem pessoas e possíveis amigos, já engoli e arrefeci muita coisa de deseducação à ingratidão de posturas incorretas, de amigos, mas continuo a gostar deles, ainda que as faltas tenham surgido. Relevo, e me respeitam acima de tudo, sem respeito torna-se impossível a aproximação. O que há de pior é ser covarde, nisso não tenho consenso, mas o covarde não se mostra, é mau caráter.

Me revolto na hora, mas o tempo faz apagar. Deve ser a tal da compreensão que tanto busco burilar, aquele não querer ter em seu interior nenhum ressentimento com ninguém, mesmo que a pessoa não mereça nenhuma consideração por todos os motivos. Acho que é um crescimento que obtive com a compreensão sem fronteiras. A vida não vale mágoa alguma, mas não são todos que bebem na mesma fonte, que a minha não seque. As vezes penso que está em risco, mas supervenientemente vejo que não.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 25/03/2013
Reeditado em 25/03/2013
Código do texto: T4207328
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