Entre a Luz e a Espada
Sentia uma fina alfinetada na pele à altura do peito. Pendesse mais um pouco à frente, por certo a lâmina fria e afiada daquela espada transpassaria seu coração, fazendo-o sangrar até à morte. Imóvel, olhos arregalados, o suor escorria-lhe pela face, ora parecendo lágrimas, ora parecendo gotas suicidas a precipitarem-se da ponta de seu nariz rumo à morte.
E se retrocedesse? Uma enorme e pesada cruz o aguardava. Um peso de cem toneladas, avaliava, esmagá-lo-ia. Que fazer numa situação dessas, entre a cruz e a espada? Embora não houvesse tempo para tal, uma reflexão instantânea se fazia necessária.
Seguir adiante significaria morte certa, com uma lâmina de aço atravessando seu peito. Retroceder trazia a expectativa de ter de suportar um enorme peso, talvez maior que sua capacidade. “Talvez”, essa foi a chave para sua decisão.
Deu um passo atrás e a cruz, aparentemente impiedosa, pesou-lhe nos ombros. Num primeiro momento suas pernas tremularam, o coração bateu em disparada, o suor encharcou todo o seu copo. Fraquejou. Pensou que não resistiria, mas algum tempo depois...
Mesmo com a cruz ainda lhe pesando horrores, as batidas do coração estabilizaram, e ele já podia enxergar adiante. Sabia que desde então sempre teria a cruz às suas costas e entendeu que poderia suportá-la. Mais que isso, começou a compreender como torná-la mais leve e o que a fazia pesar mais.
O tempo foi passando. Somente assim, com a cruz às costas, observou que cada um leva consigo sua própria cruz. Uns as suportam com alegria, disposição e resignação; outros, com pesar, tristeza e inconformismo. Conclui que a maneira como cada um encara sua cruz é que determina seu peso.
O tempo passou mais um pouco. Lembrou-se daquele dia em que ele olhou para frente e sentiu uma espada, olhou para trás e viu uma cruz. “Como me esganei!!”, pensou, “Era LUZ e não Cruz!!”.