O comércio do humano
O comércio do humano
O homem passou a ser comércio do próprio homem; o capitalismo, enfim, chegou onde tanto queria. Para satisfazer seus desejos e vontades, o homem olha o outro como uma mercadoria, um pacote, no qual, ele recebe, usa e quando enjoa, desfaz.
O amor nasce do comércio dos corpos, do desejo da satisfação, mas os dias atuais com a sofreguidão e as ofertas, a durabilidade foi substituída pela intensidade de um instante. O amor nasce já sabendo que irá padecer, imediatamente. O imediato colocou o ser humano como um objeto, um corpo, tudo para saciar seu desejo egoísta.
Amigos são, apenas, caminhantes de vida; sócios temporários para o grande lucro e bônus, momentâneo. A pressa do mundo e a velocidade do consumo produziu humanos menos humanos, seres mecânicos e com objetivos individuais e discursos unilaterais. A amizade é instantânea, artificial, na qual, não se permite aprofundamentos e nem aproximações que vão além de apertos de mão e conversas fragmentadas e superficiais. É o homem criando um novo laço; frouxo e sem compromissos.
O mercado atual fez do homem um moto-contínuo; trabalhador incessante, máquina eficaz e barata, tudo para sustentar o novo modelo de sociedade. Esse homem precisa de alimentar o progresso e obtê-lo, dessa forma, ele se sacrifica para colocar no bolso algumas benesses tecnológicas, mesmo sabendo que muitas delas só servirão para estimular a voracidade do capitalismo. O necessário, hoje, é o lixo de amanhã; o trabalhador de agora é o doente no futuro.
O homem, como mercadoria, está colocando validade em seus sentimentos, deixando as vontades capitalistas saciarem os desejos e, assim, ser comprador e mercadoria do próprio homem. Destarte, não há mais laço fraternal e a família é, apenas, um acidente, na qual, o homem convive como um convidado ilustre – é a primeira ordem falindo. Esse laço familiar, hoje, está enfraquecido; a participação nula dos pais e a obrigação das instituições fazerem o papel da família, fez com que se produzissem homens mais omissos e escravos do sistema de vida que vigora.
Essa sociedade fast food, misantropa, comercializa bens e homens, vende matéria-prima e permuta humanos, tudo para suprir as necessidades do capitalismo que muitos não acompanham, mas os poucos que conseguem regurgitam suas sobras para que aqueles, à margem, tenham a ilusão de que estão comprando a ideia de progresso; é o homem sendo comerciante e, sendo, mercadoria dele mesmo.
A instabilidade dos novos tempos afastou o homem do humano, criando um descrédito no ser humano e evitando afetos e relações de identificação. Não há mais tempo para as emoções, não há mais a preocupação com o coletivo, tampouco, há uma identidade; é o homem sem lugar, cultura e paradigmas (há lugares, culturas e paradigmas; pluralizou-se a vida).
O mundo atual não aceita paradas para troca de afetos, não quer preocupações com relações duradouras, evita contatos e perdeu a crença; fragmentou verdades, eliminou alguns dogmas e solidificou o outro como um comércio.
O homem, refém do capitalismo, o sustenta com os restos dele mesmo; produz, consome e vira o próprio lixo do amanhã.
Mário Paternostro