ENCONTRO COM A TEORIA
Ao final daquela noite, ele passou refletir. Raciocinava como quem busca lenitivos para a insignificância que sentia corroer as entranhas de sua alma e tudo o que entendia fazer sua vida, nos altos de seus quarenta e poucos anos, feliz.
Aquele pobre homem, que outrora chegou a ser referência para muitos de seu meio, queria apenas uma explicação racional, que fosse compreendida pela maioria de seus semelhantes, sobre a amargura provocada pela exclusão social na qual nos encontramos imersos. Sua desgraça é que não se faz possível uma real absorção de explicações racionais por pessoas que acreditam na existência humana como fruto de uma vontade divina e em missionários que fazem da fé alheia meio de acumulação de riquezas.
Assim, o perturbado homem, cônscio da inexistência de eco para suas palavras, resquício de uma sanidade insana, deveras egoísta, optou em quedar-se silente numa aparente rendição ao sistema que ele tanto combateu.
Entretanto, sem quaisquer certezas do caminho a tomar, avançando no interior de sua inexpressiva existência (para os donos do poder ele estava morto), passou a anotar, a escrever, concatenando seu raciocínio e, acreditem à moda antiga, fazendo sua caneta despejar no papel toda a inquietude que brotava de seu coração, com o sincero desejo de que, um dia, suas palavras pudessem ajudar na luta pela mudança de tudo que ele refutava neste mundo.
E eis que o personagem desta diminuta crônica, se é que este texto merece essa classificação, reencontrou um sentido para sua vida e o homem, que até então não sentia audiência para suas palavras, passou a ver o mundo com um novo olhar e perceber que, apesar de parte dos seus terem se rendido ao poder, ainda havia esperança para o amor e a felicidade, ou seja, para plenitude da vida humana.
E eis que, em meio às escritas noturnas, as quais vez ou outra me dedico, encontro homem calado de outrora e sua mensagem de combate à indiferença que contamina a humanidade. Da sabedoria de seus escritos eu e tantos outros aprendemos que somente nos organizamos poderemos nos desorganizar e superar o sistema que nos oprime.
Assim como ele, lutamos por um novo mundo, socialmente justo e equilibrado e aspiramos que você também compreenda o real sentido destas palavras.
Adriano Espíndola Cavalheiro
Em 25.03.2013.