Ana Clara
Saiu pra rua em calcinha e anáguas, dizendo que sabia dos loucos e dos poetas. Mandei que fosse ter com eles. Os cílios se desfazendo num marasmo negro, como quem vai e deixa ficar qualquer tom fúnebre de assombro. Contei catorze dias. Dizem que alugou um apartamentinho que entupiu de velas e elefantes de bunda pra porta. Vai ver era a essa tralha que faltava espaço dela. Que fosse embora, não via problema, mas resolveu levar também o aroma de canela e o vaso de amapolas.
Outro dia, estava ali na Bela Sintra, fumando tabaco e flor de camomila. Fingiu que não me viu, depois veio de voz mole e hálito de cachaça com mel, exibindo o compositor com quem anda dormindo. Disse que os artistas sempre gritam o que sentem.
Dei-lhe um beijo frouxo e a gente lembrou por que se ama, posto que é chama.