Ai que saudade me dá! Número 01
Tenho sessenta anos, e estes por vezes me deixam com uma nostalgia contagiante.
Meus tempos foram outros dos de hoje.
Tenho saudade dos carnavais quando criança onde brincava com uma banana de plástico tentando molhar quem passasse por mim. Sem experiência e ingênua me tomavam a banana;
Saudades da semana santa quando minha avó não me deixava pentear o cabelo ou pegar na vassoura, era crendice, mas também muita pureza;
As minhas bonecas de pano, com olhos, braços, vestidos que eu fazia e ainda a casinha da boneca com todos os cômodos organizados com caixinhas vazias;
Saudades do refrigerante que só tomava nas festas e era em garrafinhas pequenas;
Pela minha condição o arroz era só nas quatro festas do ano;
Saudades do molho com folhas de alho verde que minha vó fazia substituindo a carne para comer o cuscuz;
Tenho saudades da autonomia que minha mãe me deu, aos oito anos eu ia ao comercio comprar tecidos, ia à igreja e sempre procurava o catecismo com a participação de uma freira;
Saudades do meu pai (separado da minha mãe) eu o procurava e estava sempre sentado na calçada da igreja;
Como me lembro da minha avó paterna, cantora do coral da igreja e me deixava subir ao coro antes que a dona Sebastiana visse – esta era carrasca;
Saudade da minha primeira sandália havaiana era vermelha, eu a lavava sempre para ficar bem limpinha;
Saudades de uma amiga que veio da capital e me disse que o tio iria trazer um homem bem pequeno que cabia numa caixinha, mas que era de verdade. Até hoje espero este ser, ficou no meu imaginário de criança;
Sei que estas são saudades que não são tão comuns aos recantistas, mas fico feliz em compartilhar.