Das tantas coisas que gostei...


Pode até mesmo parecer estranho para alguns que conhecem certos aspectos de minha tão atribulada vida, repleta de altos e baixos e que julgam conhece-la por inteiro, em seus mínimos detalhes, que hoje ainda me mantenha sereno ao me ver desprovido de tudo ou quase tudo que já tive em tempos passados, amigos, amores, bens ou posses.

Por vezes, até mesmo me surpreendo com o desprendimento e alheamento atual de tudo que me rodeia e constato que, simplesmente, estou dando vazão ao que sempre fui e que se encontrava escondido no mais íntimo de mim mesmo, sentimento alicerçado nesta longa caminhada que foi minha vida.

Parafraseando Saint-Exupery, constato que, em realidade, “sou um pouco de todos que conheci...”, pois de cada um deles trago as melhores lembranças, as recordações de nossos melhores momentos, gravados de forma indelével no mais profundo de meus sentimentos e que, por centenas de vezes, levam-me a perder-me na relação espaço-tempo, a julgar que o passado se faz presente no momento atual, como se ainda o estivesse vivendo agora. O tempo não passa... De cada um deles, assimilei o que tinham de melhor a me transmitir, depurei, decantei e incorporei ao que hoje sou, fazendo-me melhor.

Também, sou “...um pouco dos lugares que fui...” um eterno e nostálgico sonhador prisioneiro que não consegue se libertar das tantas belas imagens vividas e presenciadas, algumas bem simples como um por de sol nos confins de praias nordestinas ou mediterrâneas, caminhando descalço e com as ondas lambendo-me os pés, no aguardo do nascer de uma lua cheia dourada em Iriri, Cabo Frio ou Cassis, no exato momento em que ela surge gotejante sugerindo que ainda encharcada pela água do mar de onde brotou há pouco. Ah, e o que falar das noites no campo, no alto de montes, em meio às florestas, na mais perfeita comunhão com Deus, vendo-O explodir e espargir ao léu miríades de estrelas no azul escuro do firmamento?

Igualmente, sinto-me em paz, perfeito e repleto, ao constatar que dos tantos e quantos amores que tive, que vivi, e foram tantos, por quem tanto chorei e por quem tanto igualmente sorri, de todos eles restaram saudades imensas, de cada um dos segundos compartilhados, de cada um dos sonhos sonhados, de cada beijo, carinho ou afago dado ou recebido e que, espero, para elas também tenha restado “... um pouco das saudades que deixei...”

Finalmente, na solidão em que hoje vivo, feliz, distante de quase tudo e de quase todos, posso me permitir dormir tranquilo, coração e sonhos embalados por todo meu passado, por meu presente, por meu futuro, sorriso nos lábios por todas minhas doces lembranças, pois assim, simplesmente sou ”...e sou muito das coisas que gostei.”
LHMignone
Enviado por LHMignone em 23/03/2013
Reeditado em 12/10/2013
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